terça-feira, maio 13, 2025
Um adeus a Mujica
Rolo meu feed do Instagram: de cada dez fotos, oito trazem o Pepe Mujica. Decidi vir escrever pra me despedir do adorável senhor Mujica. Me deixou triste a sua partida. Escolhi uma foto dele com sua companheira de vida e de lutas políticas, a Lucía Topolansky. Lindos, idosos e lúcidos. Para eles, a vida e a política realmente eram uma coisa só, eles eram iniciados nas verdades filosóficas e sabiam que a política serve para o bem comum e para defender a vida com dignidade. Dignidade para todos, como um projeto coletivo. Fiquei lendo frases do Mujica, vendo vídeos do Mujica e penso que homens como ele não nascem todos os dias; mas felizmente vários como ele respiram sobre o planeta Terra neste exato momento. A beleza de um socialista de verdade é que ele é capaz de compartilhar o único prato de sopa que tiver em casa. Esse era o Pepe. Viveu segundo seus princípios de simplicidade e austeridade, mostrando a todos nós que a vida era muito mais que acumular riquezas e vaidades. Talvez ele foi um dos seres humanos mais decentes que já existiu por essas bandas e alhures.
domingo, setembro 27, 2020
Arnaud fait son 2ème film
Com o título, no Brasil, de "Amor, Paris, Cinema", o diretor Arnaud Viard nos traz uma delícia de longa-metragem em que ele mesmo protagoniza uma história metalinguística: um diretor tenta escrever e dirigir o seu segundo longa. A história é leve e divertida, mas também conta com as pegadas melancólica, crítica, psicanalítica e poética do bom cinema francês. Ao lado de uma lindíssima Irène Jacob, Viard nos conta uma história criativa e que poderia ser vivida por qualquer ser humano que está perseguindo um sonho, como eu ou você.
Arnaud é um homem de 45 anos que escreve roteiros, atua e dirige. Como ele mesmo se apresenta, "é diretor e ator". Atua para sobreviver, mas sua grande paixão é dirigir. Começa sua narrativa contando do bloqueio que teve ao realizar seu primeiro filme, em 2004. Se vamos assistir a uma história autobiográfica, não poderemos afirmar. Mas a criatividade artística e a potência sexual são dois motes para o deslanchar do nosso filme.
Arnaud tem dois sonhos: ter um filho e fazer o seu segundo filme. Como casal de meia idade, Chloe e Arnaud já têm alguma dificuldade para engravidar, o que termina por angustiá-los. Então começa a metanoia de Arnaud: separa-se de Chloe, começa a dar aulas num workshop de cinema, conhece Gabrielle, uma mulher muito mais jovem que ele. A tentativa de reconstruir a vida, de encontrar alguma vitalidade em meio aos desencontros - não havia conseguido que o produtor aceitasse o seu roteiro; não havia conseguido ter um filho com a mulher que amava -, o levam a se reinventar em meio à destruição dos sonhos. Sente-se feliz com a jovem Gabrielle, gosta das aulas e dos alunos, diverte-se bebendo da juventude que o rodeia. Mas sentimos que nem tudo está ali.
Louise Coldefy e Arnaud Viard, em cena de Arnaud fait son 2ème filmAs idas às sessões com o psicanlaista e as visitas à mãe hospitalizada começam a descortinar o íntimo de Arnaud. Nas cenas em que vai no trem - momento da espera, momento de instrospecção -, a ideia de perder a mãe e a busca pelo lugar de pai vão se somando no retrato que o filme constrói de nosso protagonista. Há cenas lindíssimas, como o diálogo tecido com a mãe, no trem que o leva de volta a Paris, depois de visitá-la no hospital. O diálogo é parte da despedida, antecipação do que está por vir. A mãe está em estágio terminal, sente dores, mas não quer dar trabalho aos filhos. Igualmente me encantou a cena da festa dada pelos alunos, em que Arnaud dança alegremente enquanto a música alegre é substituída pelo "Requiem in Paradisum", de Gabriel Fauré, e, lindamente, migramos do êxtase da festa para o êxtase da morte, momentos em que o sagrado toca os corpos humanos, momentos sublimes em que o amor ágape e a morte encontram morada. Arnaud recebe o telefonema que traz a notícia da morte da mãe, despede-se de Gabrielle, sai da festa e vai ao encontro de Chloe. Eros guia nossos amantes, nada mais erótico e íntimo que amar-se diante da morte da mãe. Arnaud pergunta-se e pergunta a Chloe por que eles não deram certo. Diante da perda da mãe, ele busca o consolo nos braços amorosos de Chloe, e, magicamente, nesse momento, concebem um filho. Fim e começo se enlaçam, um símbolo de que a vida é cíclica e infinita.
Arnaud finalmente consegue um produtor para o seu segundo filme e, justamente quando realiza esse sonho, Chloe o procura revelando que ele é pai, que ela está indo parir. A metáfora do nascimento, que tantas vezes é usada na arte, associa-se na concepção de uma obra e de um filho. Dois projetos que já se davam por fracassados, que haviam sido abandonados por Arnaud. Chamado pelo telefone, é convocado a assumir a realização do seu segundo filme e também o nascimento do seu filho. Sonhos que talvez já fossem inesperados. Sonhos que ele talvez já estivesse disposto a esquecer. Mas a Vida às vezes é assim, não é mesmo? Às vezes os sonhos correm atrás da gente. 💓
Irène Jacob foi um lindo reencontro, para mim. Meu primeiro momento com a senhorita Jacob foi nos clássicos "A Dupla Vida de Veronike" e "Rouge", ambos de Kieslowski. Reencontro-a madura, igualmente bela, com a mesma força da juventude. Arnaud Viard foi uma grata surpresa, já quero ver "Clara et moi", o seu primeiro filme. É muito bom ver diretores que entram na pele de seus protagonistas, como o fizeram Woody Allen, Nanni Moretti, entre outros. Inclusive, é muito boa a crítica escrita por Rodrigo Torres sobre "Amor, Cinema, Paris". Ele afirma que o formato de "Arnaud fait son 2ème film" estaria baseado em "Caro Diario", do diretor italiano. "Caro Diario" é um filme de que gosto muito (amo as idas pelas ruas de Roma montado em uma vespa, eu me senti e me sentei na garupa de Moretti...), foi meu primeiro encontro com Moretti, no comecinho dos anos 2000, seguido pelo belíssimo "O Quarto do Filho" (chorei baldes...), ambos imperdíveis.
sábado, setembro 12, 2020
Depois do casamento (Sorry, tem spoiler)
O que você acharia de, ao perder sua mãe, ganhar outra? E o que acharia de, ao perder esta, recuperar a primeira? Essa roda viva é o que vive Grace (Abby Quinn), no belíssimo After the Wedding (do diretor Bart Freundlich, 2019), remake de Efter Brylluppet, filme dinamarquês, de Susanne Bier (2006), sobre o qual escrevi uma postagem na época do lançamento (leia-a clicando aqui). O título é homônimo, mas a refilmagem adaptou alguns aspectos da história inicial, mantendo a essência dos personagens e da trama.
A história começa na Índia, com a personagem Isabel, maravilhosamente interpretada por Michelle Williams, quem administra um orfanato em dificuldades financeiras. Ao receber uma proposta de ajuda econômica da empresária estadunidense Theresa (interpretada por Juliane Moore), precisa viajar a Nova Iorque para assinar papéis, e é quando a nossa história encontra o seu conflito.
Theresa condiciona Isabel a permanecer em Nova Iorque por mais tempo que o necessário para a assinatura dos papéis da doação, e a convida para o casamento da sua jovem filha, Grace. Durante a festa, Isabel descobre que o marido de Theresa é Oscar, seu amor do passado e para tornar um pouquinho mais dramáticas as coisas, Grace revela aos convidados (e aos espectadores) que Theresa é sua mãe adotiva. Nesse momento, Isabel se dá conta de que foi pega em uma armadilha do destino: a filha que tivera aos 18 anos, e que teria sido supostamente entregue em adoção por Oscar, na verdade havia sido criada por ele e acabava de se casar, ali, diante de seus olhos.
Isabel descobre a traição de Oscar e decide pedir-lhe respostas. Nós, espectadores, tal qual na versão dinamarquesa, nos damos conta de que Theresa teria reunido os dois, na tentativa de juntar as pontas da vida de Grace e também de preparar o terreno para quando ela morresse. Descobrimos, então, que Theresa tem uma doença em estágio terminal e que tanto Grace quantos os pequenos gêmeos de 8 anos precisam de uma mãe substituta. O cuidado e o amor de Theresa também se voltam para quem estará ao lado de Oscar, "jogando-o" nos braços de Isabel.
Não sou muito fã de ficar dando sinopses da história, me interessa analisar situações, entender conexões, fruir do que o filme me proporciona. Depois do casamento de Freundlich tem leveza, mas também intensidades. É uma proposta bem diferente do estilo do homônimo dinamarquês, mas no remake estadunidense encontramos a história sensível e bem contada, pronta para a nossa sessão.
As mães se substituem numa dança harmoniosa e triste: quando uma sai de cena, entra a outra. A filha sempre terá o amparo e o amor de uma delas, apesar de as duas coexistirem enquanto dura o filme, em todas as cenas em que negociam a permanência de Isabel em Nova Iorque. Isabel, mãe de dezenas de órfãos indianos, talvez tentasse encobrir a mãe ferida que precisou deixar a filha aos cuidados de outros, quando ainda era uma adolescente. Ela não tinha estrutura para cuidar de uma criança quando teve Grace. Mas agora a recupera, vinte e um anos depois, quando Grace já é uma mulher, mas sabemos que o ser humano nunca é suficientemente maduro para abrir mão do amor materno...
Impossível não se encantar pelo belo figurino tão ao gosto das cores das especiarias indianas - do açafrão à canela -, com seus tons fortes e suas cores quentes e vibrantes. Impossível não perceber a maneira delicada como a história é contada.
Vejo que fiz uma análise muito mais densa do filme dinamarquês, mas hoje me sinto um pouco cansada, talvez eu volte depois para um post scriptum.
O que posso dizer para finalizar, é que as coisas que realmente importam, os sentimentos fundamentais na vida do ser humano, esses estão presentes na história contada por Freundlich. Agradeço a delicadeza e a intensidade.
quarta-feira, agosto 12, 2020
Princípio da realidade
Ao entrar em contato com pessoas que estão vivendo a travessia da infância para a vida adulta, entrei em contato com muitas questões da alma humana, dessas que às vezes recalcamos quando não as vivenciamos adequadamente. Hoje, do alto da montanha que construí com minhas experiências de vida, vejo quão importante é trabalhar com esses jovens certas habilidades socioemocionais fundamentais para enfrentar o ambiente acadêmico, para conviver em grupo, para aprender de maneira satisfatória. E, por que não?, para a Vida. Mas não é fácil.
Em janeiro deste ano, li um texto que mudou meu olhar para o meu trabalho. Trata-se de uma publicação sobre habilidades socioemocionais, livro escrito por Anita Lilian Zuppo Abed e que está disponível gratuitamente no site do MEC, basta clicar aqui.
domingo, abril 15, 2018
A fluidez da água a ajuda a tomar a forma das margens, a adaptar-se ao que está ao redor.
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quinta-feira, dezembro 18, 2014
segunda-feira, julho 28, 2014
Poetas e seus temas - parte 2
Poetas e seus temas
La última inocencia (Alejandra Pizarnik)
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Partir
en cuerpo y alma
partir.
Partir
deshacerse de las miradas
piedras opresoras
que duermen en la garganta.
He de partir
no más inercia bajo el sol
no más sangre anonadada
no más fila para morir.
He de partir
Pero arremete ¡viajera!
In: http://www.los-poetas.com/e/pizarnik1.htm#NOCHE
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quarta-feira, março 19, 2014
Tributo a Cláudia
sábado, junho 22, 2013
sábado, fevereiro 23, 2013
Projetos de leitura: Paul Auster
terça-feira, outubro 02, 2012
Os esmaltes da minha avó
sábado, janeiro 21, 2012

quinta-feira, maio 26, 2011
Sobre maternidade
Boa viagem para todos nós!!
:)
domingo, abril 03, 2011
O arco e a flecha

Revelação: às vezes, são pessoas próximas de você (pessoas da sua família, colegas, vizinhos) os que te ferem. Por desconhecimento, ingenuidade, crueldade ou prazer eles escolhem seu alvo e te mandam flechas. Por afeto, respeito, ingenuidade ou "educação", você não se defende. E muitas vezes você cria a falsa ideia de que mesmo as pessoas que se amam se ferem. Não, não é bem assim. Quem ama de verdade, quem respeita o objeto de seu amor, não o fere. Ou pelo menos cuida de não ferir, até porque quem ama de verdade preza pelo outro, cuida, protege.
Curiosamente, não contei com muita gente que me defendesse das flechas sutis. Tive a defesa das coisas grandes, dos grandes abismos que beiram os caminhos, mas alguma pequena flecha conseguia atravessar os cercos do afeto e da proteção familiar, e me atingiam em cheio no coração. Porque há uma coisa: dessas pequenas flechas, a gente tem que aprender sozinhos a se proteger. Até porque o caminho se trilha na maior parte das vezes por conta própria, sem ter quem nos carregue nos braços. E é para isso que temos pernas, para isso levamos dois anos aprendendo a nos erguer, nos equilibrar, caminhar, saltar de uma perna, correr. E, apesar das pernas longas, eu tinha um coração aberto, ou, nas palavras de um amigo, "recebia todo mundo pela porta da frente". Aos poucos - e isso me custou muito trabalho!!-, fechei a porta e o coração, e só os abro agora aos que demonstram merecê-lo de verdade. Foi um processo difícil, mas que se mostrou extremamente gratificante, uma construção diária e exaustiva de mim mesma.
O meu trabalho interior agora responde a apagar o que ficou sem resposta. As flechas que feriram e deixaram alguma pontinha envenenada sob a pele; as que pegaram de raspão e igualmente não foram atiradas de volta; as vezes em que me deixei ser alvo fácil e as que não fui capaz de alçar o arco.
Todos nascemos com arco e flecha. O que a Vida faz é nos ensinar a empunhá-los, usá-los com destreza, observar o alvo e defender-nos quando for o momento preciso. Levei trinta para me autorizar a empunhar meu arco, e agora também já sei me esquivar dos ataques. Sinto-me pronta para viver plenamente a Vida. Mesmo que haja alguma ferida pelos caminhos, pois essa parte é inevitável.
domingo, março 20, 2011
Carta à amiga que se foi
terça-feira, março 15, 2011
Gentileza masculina
Fico indignada com como os homens mais jovens não aprenderam, ou não colocaram em prática nunca, ou se esqueceram, ou ignoram, ou desprezam, ou não acham digno de si ser gentis. Talvez não se trate apenas da falta de gentileza com as mulheres, mas, sim, com os outros homens também. E qual é a razão para tal falha imperdoável? A falta de civilidade que se vulgarizou em todos os lugares? A pressa para existir real e virtualmente? A banalização das relações interpessoais? O que são valores considerados bons e importantes hoje em dia?
Ultimamente, tem me chocado me deparar com cenas de descortesia e até hostilidade masculinas. E não necessariamente comigo, heim? Vejo cenas ao meu redor, e me chocam! E insisto: principalmente, dos homens mais jovens. Acho que os únicos gentlemen que encontrei nas últimas semanas tinham mais de 65 anos...
Homens, por favor, saiam em defesa própria, e ajudem-me a compreender este desagradável fenômeno social! A tribuna está disponível!
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
Em contrapartida, hoje, vivi uma experiência muito estranha relacionada com a morte. Telefonei para a clínica onde atendia um dos meus médicos. Eu comecei a me consultar com ele em 2008, e o visitava com frequência para um tratamento que realizei até mediados do ano passado. Em setembro, eu o vi por última vez, ele se mudou para outra clínica e o fim de ano fez com que eu só voltasse a procurá-lo hoje, para poder retomar as consultas esporádicas. Qual não foi minha surpresa ao ligar para a clínica e ouvir da secretária que ele havia falecido! Como assim "falecido"?!, perguntei, atônita, à moça. Ela repetiu: "Sim, faleceu, em outubro". Foi tão estranho ouvir isso!!... Como ele pode morrer sem me avisar??, era o estranho pensamento que passava pela minha cabeça. Como se a morte contasse com avisos, com despedidas, com letreiros de "vira à direita", "vira à esquerda"... Depois perguntei à moça de quê havia morrido, ela me disse que de um aneurisma, que ele havia começado naquela clínica havia poucos dias e então, aquela fatalidade... Nunca havia vivido algo assim, desliguei o telefone e abri o bocão a chorar... Era a sensação de haver sido abandonada pelo médico... E eu volto a repetir: muito estranho viver tudo isso.
E é a dança da vida: onde vida e morte se tocam em determinados pontos, e parece que uma voz diz "foi assim desde o começo dos tempos..." e isso me serve de consolo.
Nos últimos dias, pessoas da minha família também adoeceram e um tio avô faleceu... São as formas em que o milagre da vida se mostra, não é mesmo? É o equilíbrio eterno entre o perder e o ganhar...
Vou tentar fazer prevalecer a alegria de estar viva e a de que cresce dentro de mim o meu bebê!!!
Beijos, até a vista!
quinta-feira, janeiro 13, 2011
Un poco de literatura
sexta-feira, outubro 29, 2010
Olhares sobre as eleições - parte XXIII
É hora de tomar partido: um basta aos reacionários tucanos!
O significado de uma vitória tucana será catastrófico não só para o País, mas para o todo o território latino
25/10/2010
Roberta Traspadini
Estamos às vésperas do segundo turno. O momento atual é de intensa mobilização contra a campanha tucana em todo o País. É importante que assim seja. Caso contrário, corremos o risco de não aproveitar essa oportunidade histórica para ler, incidir, dialogar entre nós classe trabalhadora, sobre o que vemos, e porque vemos a disputa da forma que vemos.
O significado de uma vitória tucana será catastrófico não só para o País, mas para o todo o território latino.
Para nós, classe que vive do trabalho, o momento é de estarmos nas ruas, nas células organizadas, discutindo o que se quer para além do que se tem, e os riscos manifestos com as apostas que podem ser feitas no curto prazo.
Todo projeto tem por trás uma concepção de mundo que relata sua forma e seu conteúdo de poder. Vejamos as bases conceituais dos tucanos.
1. O projeto de nação do PSDB
O projeto de Nação do PSDB, cujos principais intelectuais orgânicos são Fernando Henrique Cardoso e José Serra, é o de modernização atrelada ao que de mais avançado há no capitalismo em sua fase imperialista.
Para estes ideólogos da concepção de desenvolvimento como interdependência entre capitais, uma nação moderna é aquela conectada aos avanços técnico científicos promovidos pelos capitais protagonistas, independentemente da nacionalidade destes capitais.
As teses deste grupo são forjadas na seguinte concepção: existência de uma burguesia nacional conservadora que atrofia o pacto federalista para o desenvolvimento capitalista. Logo, necessita ser estimulada, movimentada, ou destruída pela concorrência com os grandes capitais investidores internacionais, sejam produtivos ou financeiros.
Para este grupo, a única forma de avançar no capitalismo imperialista, é permitir, via tomada do poder do Estado, um tipo de ação governamental que viabilize aquisições, fusões, privatizações, desestatizações, quebra de regulações e políticas macroeconômicas que impeçam a livre movimentação do capital (inter)nacional.
Para estes sujeitos a era global se caracteriza como a de livre mobilidade do capital que deve ser vista como uma oportunidade histórica para as economias retardatárias no processo de desenvolvimento capitalista.
2. A execução do poder
Na prática do poder, esta tese evidencia a relevância para o capital internacional de um Estado parceiro, aberto às coligações produtivas e infra-estruturais no processo de inovação tecnológica puxado pelas grandes corporações.
Com o aval do partido e de seus representantes eleitos, este capital moderno ocupa o que é do Estado e governa a sociedade e os territórios, pela constituição federal soberanos, a partir da busca pela valorização de seu negócio para além das fronteiras nacionais.
Este capital moderno, cujas sedes das principais empresas estão nos Estados Unidos, tem projetado nos últimos 40 anos para América Latina um novo momento de apropriação dos recursos naturais, energéticos e das riquezas criativas da população, no que podemos caracterizar a renovada fase das veias abertas da América Latina.
A meta principal é a apropriação privada dos americanos e seus pares, de tudo o que pertence ao Estado Nacional latino-americano e mundial, como guardião, republicano, dos interesses das sociedades que ocupam.
Estamos falando de um novo estágio da guerra, em que a leitura da correlação de forças no continente nos exige com urgência frear qualquer proposta de apropriação imediata do roubo dos territórios e vidas por parte dos capitais imperialistas hegemônicos, com a chancela do Estado nacional brasileiro.
Uma vitória de Serra representa um avanço sem precedentes no continente latino-americano daquilo que o PSDB, via sua adesão consensual a Washington, não conseguiu realizar por completo nos 10 anos de mando direto dentro do Governo Federal (oito de Fernando Henrique como Presidente e dois anos dele como Ministro do Governo Itamar).
A prévia eleitoral de uma possível vitória de Serra evidencia o aberto processo de conflitos, de guerra, criminalização dos movimentos e sujeitos, logo, a ampliação de um processo de perseguição e de construção no imaginário coletivo da sociedade brasileira sobre os criminosos, os crimes e o tipo de criminalidade.
Estamos falando da opção política concreta que os EUA esperam para assumir a ofensiva sobre o continente a partir da conquista do Estado brasileiro no próximo governo, assim como fazem com Chile, Colômbia e México, citando os governos coligados mais avançados nos pactos capitalistas imperialistas atuais.
3. As tarefas deste momento histórico
O que está em jogo não é a medida socialista ou capitalista da disputa e sim a forma como se vê a ampliação da soberania brasileira e o conteúdo de sua relação com o continente a partir dos dois projetos que se colocam em disputa.
No plano capitalista selvagem, não é possível a permissão representativa de que os tucanos subam a serra do poder legitimados socialmente por mais 4, para executar um processo claro de barbárie social.
Caso isto ocorra, a degradação do pouco que se conseguiu reconstruir no após queda do muro de Berlim no País será avassaladora para dentro e para fora das fronteiras nacionais. Mesmo que na aparência ocorram políticas sociais que ocultem a real entrega das riquezas de nossos territórios à Nação hegemônica.
São tempos difíceis. Tempos de um posicionamento que pode parecer contraditório mas que evidencia, na correlação de força deste momento, os pesos sobre a classe trabalhadora de uma opção reacionária para os próximos 4 anos.
São tempos que nos obrigam a estar nas ruas dialogando com nossos pares, os trabalhadores, ouvindo suas opiniões e tirando daí uma boa reflexão sobre os responsáveis pela formação de suas consciências na atualidade.
Isto é fundamental na construção da representatividade no poder, uma vez que a educação oral formaliza a estrutura do pensar protagonizada pela indústria cultural capitalista hegemônica no país, no continente e no mundo.
Nossa principal tarefa é debater com a parcela da sociedade que nos interessa, o que perderemos caso se consolide uma vitória reacionária tucana.
Para isto é importante que nossos materiais de agitação e propaganda e nossos instrumentos de diálogo com a sociedade estejam a serviço desta intencionalidade de classe. A edição especial do Brasil de fato e as cartas dos movimentos sociais do campo nos dão estes elementos.
A tarefa apenas começou. O mais importante vem depois, com uma vitória do PT. Aí o debate será de outra natureza: reivindicar, exigir, construir, cobrar um rumo diferente para a política de governo do Brasil. É verdadeiramente uma campanha com voto crítico que requer ser escutado agora, mas construído de fato depois das eleições.
A tarefa maior está para além do poder institucional a ser tensionado: teremos que retomar abertamente a reconstrução da unidade da esquerda, com o objetivo de construirmos e disputarmos o poder com base em um projeto popular, que realmente nos represente como trabalhadores brasileiros e latino-americanos.
Olhares sobre as eleições - parte XXII
Olha, estou de saco cheio do machismo do José Serra! As falas carregadas de viés de gênero, preconceituosas e que tratam a mulher como objeto me deixam indignadíssima! Não bastasse ter declarado num culto evangélico seu não-apoio à votação da lei contra a homofobia, agora mais uma das suas me deixa perplexa: num gesto convulsivo de quem já vai dar os últimos suspiros, ele pede "às moças bonitas que consigam votos junto a seus pretendentes"... Ah, Serra, nota-se o seu desespero diante da chegada do dia 31. E fica claro que em busca de alimentar a sua vaidade e seu desejo por poder, ele usa qualquer argumento, não se preocupando com a opinião pública a seu respeito: e o que acontece? Perde mais votos! Sujeitinho detestável...
Veja a matéria sobre o fato:
Mulheres reagem a pedido de Serra para convencer pretendentes
28/10/2010 21:04, Por Redação, do Rio de Janeiro
O candidato tucano, José Serra, gerou uma nova onda de protestos na internet, no início da noite desta quinta-feira, por parte das mulheres que se sentiram ofendidas com o pedido do candidato, feito no encerramento do discurso em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para uma plateia de cabos eleitorais e convidados. Ele apelou para que para as “meninas bonitas” busquem convencer os seus pretendentes masculinos a votar nele, principalmente na internet.
– Quero me concentrar agora no que vamos fazer até domingo. Temos que não apenas votar, temos que ganhar voto de quem está indeciso, voto de quem não está ainda muito decidido do outro lado – argumentou o candidato.
Segundo o candidato tucano, mulheres bonitas têm mais condições de cabalar votos para a aliança da direita.
– Se é menina bonita, tem que ganhar 15 (votos). É muito simples: faz a lista de pretendentes e manda e-mail dizendo que vai ter mais chance quem votar no 45 – completou.
A proposta caiu mal para as mulheres brasileiras que, no Twitter, alçaram o primeiro lugar nos trends (assuntos mais debatidos nas redes sociais) nacionais e terceiro lugar, em nível mundial, com as mensagens de protesto contra o candidato.
“Sou mineira e bonita, mas não tenho tenho vocação pra trabalho de bordel”, escreveu @fiz_mesmo, seguida de @velvetinha: “Credo, o Serra é antigo, que ideia mais triste, gente. Ele imagina as meninas coqueteando para ganhar votos. Perai, vou ali vomitar”.
Os protestos foram rastreados pela tag #serracafetao, que chegou ao terceiro lugar em nível mundial, no início da noite. O internauta @emrsn ponderou que “por muito menos o Ciro foi mega desacreditado pela imprensa”, e @purafor pergunta se esta seria uma proposta do candidato para se criar “um bordel a nível nacional”. Enquanto isso, @rodrigonc, que não deve passar dos 14 anos, aproveita para entrar na discussão, “só avisando às meninas bonitas do Twitter: podem me mandar DM (mensagem direta, na tradução do inglês) que a gente já pode negociar esse voto”.
O internauta @luisfelipesilva acirra o debate ao constatar que “não tem profissão mais ingrata do que ser marketeiro do Serra, haja gafe…”, mas coube à internauta @alessandra_st colocar o tom do protesto: “Serra desvaloriza a mulher e subestima eleitorado feminino em MG”, concluiu.
quarta-feira, outubro 27, 2010
Olhares sobre as eleições - parte XX
Dilma se mantém à frente de Serra até em pesquisa encomendada por tucanos
26/10/2010 22:08, Por Redação, do Rio de Janeiro e São Paulo
Enquanto a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, mantém a vantagem, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira, para o adversário tucano, José Serra, este lança mão de estudo pago ao Instituto GPP, ao custo de R$ 160 mil, para apontar uma distância menor entre um e outro. De acordo com o levantamento do Datafolha, a petista assegura 56% dos votos válidos (que excluem brancos, nulos e indecisos) contra 44% de José Serra (PSDB). Os números em votos válidos são os mesmos registrados na pesquisa anterior, realizada no dia 21.
Já no total de intenções de voto, a oscilação foi pequena. Dilma passou de 50% a 49% e Serra foi de 40% a 38%. 5% afirmaram que pretendem votar em branco ou nulo, enquanto 8% dizem estar indecisos. No Sudeste, Serra caiu três pontos percentuais, a maior parte deles em Minas Gerais, e registra 40%, contra 44% de Dilma. No Sul, ele ainda lidera, por apenas três pontos, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. No Nordeste, a diferença continua em 64% a 27%.
A pesquisa foi realizada no dia 26 de outubro com 4066 eleitores em 246 municípios em todos os Estados do País e está registrada no TSE sob o protocolo 37404/2010. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pelo diário conservador paulistano Folha de S.Paulo.
Pesquisa encomendada
Diante da debandada de aliados, que se acentuou nesta terça-feira com o abandono de um grupo de prefeitos baianos que, impressionados com pesquisas que apontam vitória de Dilma, começaram a se desvincular de Serra, o candidato tucano recebeu do governador eleito do Paraná, Beto Richa, a dica para divulgar uma pesquisa de opinião que fosse mais simpática à causa da direita. A campanha de Richa, no primeiro turno, obteve uma série de liminares, na Justiça, para censurar sucessivas pesquisas que mostravam o avanço do adversário de Richa, Osmar Dias (PDT).
Richa, em conversa com Serra, chegou a considerar a hipótese de tentar segurar, no Tribunal Superior Eleitoral, a divulgação de pesquisas na reta final da eleição para o segundo turno, mas o adversário de Dilma pensou duas vezes e descartou o viés judicialista. Surgiu, então, a ideia de buscar números mais favoráveis ao tucano. Para isso, a oposição recorreu ao desconhecido instituto GPP, fundado em 1991, e que atua preferencialmente no ramo de pesquisas empresariais, ligado ao ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM).
Para que pudesse ser divulgada, a pesquisa do GPP precisou ser registrada na Justiça Eleitoral até para, no futuro, servir de prova em um possível processo contra o PSDB, que setores da campanha petista já consideram viável, por tentativa de condução do eleitorado a erro. O registro foi feito em nome do próprio candidadto a vice na chapa de Serra, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), de quem foi a sugestão para divulgar uma pesquisa interna, realizada entre os dias 23 e 25 deste mês. Segundo o levantamento, contando apenas os votos válidos, Dilma Rousseff (PT) teria 53,1% contra 46,8% de José Serra (PSDB). A margem de erro é de 1,8 ponto para mais ou para menos. A pesquisa foi protocolada no TSE com o número 37219/2010.