domingo, abril 03, 2011

O arco e a flecha

Créditos da foto: daqui.

Levei trinta anos para aprender a me defender dos arcos de quem quisesse, ou tentasse, me ferir. Trinta anos para aprender que ninguém tem o direito de fazer julgamentos superficias, ou de me avaliar pela casca, ou de pensar que pode me dizer, perversamente, quem sou, ou o quê tenho que fazer ou pensar. Foi um treinamento duro, que passou por várias esferas de mim, até atingir a totalidade e a maturidade do processo. E hoje, me sinto leve, em paz, completa e pronta para defender a mim mesma e, também, outras pessoas.

Revelação: às vezes, são pessoas próximas de você (pessoas da sua família, colegas, vizinhos) os que te ferem. Por desconhecimento, ingenuidade, crueldade ou prazer eles escolhem seu alvo e te mandam flechas. Por afeto, respeito, ingenuidade ou "educação", você não se defende. E muitas vezes você cria a falsa ideia de que mesmo as pessoas que se amam se ferem. Não, não é bem assim. Quem ama de verdade, quem respeita o objeto de seu amor, não o fere. Ou pelo menos cuida de não ferir, até porque quem ama de verdade preza pelo outro, cuida, protege.

Curiosamente, não contei com muita gente que me defendesse das flechas sutis. Tive a defesa das coisas grandes, dos grandes abismos que beiram os caminhos, mas alguma pequena flecha conseguia atravessar os cercos do afeto e da proteção familiar, e me atingiam em cheio no coração. Porque há uma coisa: dessas pequenas flechas, a gente tem que aprender sozinhos a se proteger. Até porque o caminho se trilha na maior parte das vezes por conta própria, sem ter quem nos carregue nos braços. E é para isso que temos pernas, para isso levamos dois anos aprendendo a nos erguer, nos equilibrar, caminhar, saltar de uma perna, correr. E, apesar das pernas longas, eu tinha um coração aberto, ou, nas palavras de um amigo, "recebia todo mundo pela porta da frente". Aos poucos - e isso me custou muito trabalho!!-, fechei a porta e o coração, e só os abro agora aos que demonstram merecê-lo de verdade. Foi um processo difícil, mas que se mostrou extremamente gratificante, uma construção diária e exaustiva de mim mesma.

O meu trabalho interior agora responde a apagar o que ficou sem resposta. As flechas que feriram e deixaram alguma pontinha envenenada sob a pele; as que pegaram de raspão e igualmente não foram atiradas de volta; as vezes em que me deixei ser alvo fácil e as que não fui capaz de alçar o arco.

Todos nascemos com arco e flecha. O que a Vida faz é nos ensinar a empunhá-los, usá-los com destreza, observar o alvo e defender-nos quando for o momento preciso. Levei trinta para me autorizar a empunhar meu arco, e agora também já sei me esquivar dos ataques. Sinto-me pronta para viver plenamente a Vida. Mesmo que haja alguma ferida pelos caminhos, pois essa parte é inevitável.

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