quarta-feira, março 19, 2014

Tributo a Cláudia

Fonte: Jornal Extra


Eu não consigo parar de pensar em Cláudia Ferreira da Silva, e que ela poderia ser eu, e que eu poderia ser ela. Por alguma razão, as pessoas nascem Cláudias ou Fabianas, têm chance de nascer numa família de classe média, ir a boas escolas, frequentar uma boa universidade, construir uma carreira profissional; e, talvez, -algum dia - ter uma vida de classe média. Ou, então, todo o contrário. Cláudia era faxineira. Cláudia tinha quatro filhos. Cláudia morava na favela. Um dia, ela foi baleada. Cláudia saiu de casa para comprar pão. O pão era para o café dos pequenos. Foi socorrida - ou foi emboscada?? - por um camburão da PM. No caminho, o porta-malas se abriu e seu corpo foi cruelmente arrastado pelo asfalto carioca, dilacerado, esfolado como um bicho. Cláudia morreu duas vezes. Pelas balas e pela falta absoluta de dignidade. Cláudia deixa inconsolável a Alexandre Fernandes da Silva e a seus rebentos. E não consigo parar de pensar que Cláudia poderia ser eu, não consigo deixar de pensar que Cláudia, meus caros, sou eu. 

Nenhum comentário: