sábado, novembro 24, 2007

Sobre feminismos e amor, essas palavras inapreensíveis para alguns.




Acho uma pena que os homens não se refiram mais às suas esposas chamando-as de "minha senhora". Eu sou muito a favor de cavalheirismos; parodiando o personagem anarquista de De amor e de sombras, de Isabel Allende, "meu feminismo nunca me impediu de aceitar gentilezas, nem gestos de cavalheirismo"... Muita gente por aí confunde ser feminista e-ou independente com ser um iceberg. E usando a metáfora do iceberg não me refiro apenas a não ver os 7 oitavos que estão imersos, mas também a ser gelada e cortante. Muita gente por aí - e nesse ponto me refiro a homens e mulheres - ainda acha que a emancipação feminina suplanta a delicadeza . Há mulheres que acreditam que ser emancipada significa ser elevado a menos um em relação ao gênero feminino, que essa seria a única maneira de impor-se cultural e socialmente. As pessoas não sabem que ser independente é doído, que seria ótimo poder contar com o outro amorosamente, sem cobranças, sem ter que se sentir um estorvo. Seria mais bacana ainda um sistema interrelacional que fosse de cooperação: eu cuido de você, você cuida de mim, e os dois crescem juntos. Não me refiro apenas à relação amorosa, nem apenas ao sistema de gêneros. Eu estou falando é de relação humana.




Vivemos uma outra era do feminismo. Quase toda a teoria já apontava para isso há algum tempo. É obsoleto - e chato - falar e ouvir de sutiãs queimados em praça pública. Ironicamente, a Academia ainda se recusa a aceitar a alteridade e a afirmação dos estudos genéricos, apesar de tudo. A pergunta que comumente se faz é: para quê falar (e perder tempo com isso) de estudos de gênero se a mulher está na Academia e no mercado de trabalho?? Ora, exatamente porque esse verbo se conjuga apenas no presente do indicativo praticamente. Remonta a pouco mais de um século a presença de mulheres no mercado de trabalho, e a menos ainda a sua presença massiva na Academia. Sou pesquisadora dos estudos de gênero há quase dez anos, leio sempre sobre o tema, e vejo o abismo que separa a verdadeira posição da mulher na sociedade e o lugar que já alcançamos em relação a antes do lugar que poderemos alcançar com políticas públicas voltadas para a questão do gênero, com educação que conscientize, com transformação dos valores arcaicos que criam as mulheres na cultura patriarcal. Como pesquisadora, sei que há muitíssimo por ser feito, há um longo caminho para trilhar. Como mulher, quero que toda a História vista pelo olhar feminino seja resgatada e narrada, escrita. Digo "escrita" porque a História da Humanidade é a que está nos pergaminhos, nos livros, nas teias da escrita. Quero, por exemplo, que a História seja resgatada através de atividades como o bordado, a tapeçaria, a cozinha, todas as formas manuais, que se desenvolveram pelas mãos femininas enquanto lhes era negado estar no espaço público. Quanta coisa nos foi negada ao longo da História!...




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Esses temas me prendem... me soltam a escrita também. Quero falar de outras coisas também. Que deveria haver uma lei para que os homens voltassem a usar chapéu. E que as pessoas se mandassem flores. Eu tô querendo um mundo mais bonito, sim. Claro que antes de belo, ele tem que ser justo. Ser belo seria uma conseqüência natural. Acho que tá faltando gentileza no mundo. Quero começar aqui a campanha criada pelo meu amigo Du Morelli, de Sampa: gentileza, gente!! Imagino que a etimologia de gentileza aponta para a palavra gente. Então, ter gentileza seria nada mais que ser gente!




Vamos resgatar as coisas bacanas do mundo, antes que a gente se acabe de tanta grosseria por aí...




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