sábado, setembro 12, 2020

Depois do casamento (Sorry, tem spoiler)



O que você acharia de, ao perder sua mãe, ganhar outra? E o que acharia de, ao perder esta, recuperar a primeira? Essa roda viva é o que vive Grace (Abby Quinn), no belíssimo After the Wedding (do diretor Bart Freundlich, 2019), remake de Efter Brylluppet, filme dinamarquês, de Susanne Bier (2006), sobre o qual escrevi uma postagem na época do lançamento (leia-a clicando aqui). O título é homônimo, mas a refilmagem adaptou alguns aspectos da história inicial, mantendo a essência dos personagens e da trama. 

A história começa na Índia, com a personagem Isabel, maravilhosamente interpretada por Michelle Williams, quem administra um orfanato em dificuldades financeiras. Ao receber uma proposta de ajuda econômica da empresária estadunidense Theresa (interpretada por Juliane Moore), precisa viajar a Nova Iorque para assinar papéis, e é quando a nossa história encontra o seu conflito.

Theresa condiciona Isabel a permanecer em Nova Iorque por mais tempo que o necessário para a assinatura dos papéis da doação, e a convida para o casamento da sua jovem filha, Grace. Durante a festa, Isabel descobre que o marido de Theresa é Oscar, seu amor do passado e para tornar um pouquinho mais dramáticas as coisas, Grace revela aos convidados (e aos espectadores) que Theresa é sua mãe adotiva. Nesse momento, Isabel se dá conta de que foi pega em uma armadilha do destino: a filha que tivera aos 18 anos, e que teria sido supostamente entregue em adoção por Oscar, na verdade havia sido criada por ele e acabava de se casar, ali, diante de seus olhos.

Isabel descobre a traição de Oscar e decide pedir-lhe respostas. Nós, espectadores, tal qual na versão dinamarquesa, nos damos conta de que Theresa teria reunido os dois, na tentativa de juntar as pontas da vida de Grace e também de preparar o terreno para quando ela morresse. Descobrimos, então, que Theresa tem uma doença em estágio terminal e que tanto Grace quantos os pequenos gêmeos de 8 anos precisam de uma mãe substituta. O cuidado e o amor de Theresa também se voltam para quem estará ao lado de Oscar, "jogando-o" nos braços de Isabel.

Não sou muito fã de ficar dando sinopses da história, me interessa analisar situações, entender conexões, fruir do que o filme me proporciona. Depois do casamento de Freundlich tem leveza, mas também intensidades. É uma proposta bem diferente do estilo do homônimo dinamarquês, mas no remake estadunidense encontramos a história sensível e bem contada, pronta para a nossa sessão.

As mães se substituem numa dança harmoniosa e triste: quando uma sai de cena, entra a outra. A filha sempre terá o amparo e o amor de uma delas, apesar de as duas coexistirem enquanto dura o filme, em todas as cenas em que negociam a permanência de Isabel em Nova Iorque. Isabel, mãe de dezenas de órfãos indianos, talvez tentasse encobrir a mãe ferida que precisou deixar a filha aos cuidados de outros, quando ainda era uma adolescente. Ela não tinha estrutura para cuidar de uma criança quando teve Grace. Mas agora a recupera, vinte e um anos depois, quando Grace já é uma mulher, mas sabemos que o ser humano nunca é suficientemente maduro para abrir mão do amor materno...

Impossível não se encantar pelo belo figurino tão ao gosto das cores das especiarias indianas - do açafrão à canela -, com seus tons fortes e suas cores quentes e vibrantes. Impossível não perceber a maneira delicada como a história é contada.



Vejo que fiz uma análise muito mais densa do filme dinamarquês, mas hoje me sinto um pouco cansada, talvez eu volte depois para um post scriptum

O que posso dizer para finalizar, é que as coisas que realmente importam, os sentimentos fundamentais na vida do ser humano, esses estão presentes na história contada por Freundlich. Agradeço a delicadeza e a intensidade. 



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