Um pedaço significativo de meu coraçáo pertence ao Vale do Jequitinhonha. Náo posso explicar a relaçáo muda, de amor, de devoçáo, de afeto que me liga àquele lugar. É algo visceral, por isso digo que o coraçáo é que pertence. E aquele lugar me pertence. Quero compartilhar uma experiência que vivi no norte de Minas, já faz muitos anos.
Em 1980 (alguns de vocês talvez nem houvessem nascido ainda...), fomos - minha família e eu - visitar a família da esposa do meu tio Leone. Os seus avós viviam numa fazenda linda, antiga, com carros de boi, rodas d'água e uma casa que me faz arrepiar quando penso nela: construçáo do século XIX, piso de assoalho de madeira, portas e janelas muito altas, corredores e mistérios escondidos em grandes baús no quartos. É preciso que eu conte que quando era pequena os baús e os lugares fechados a chave me fascinavam absolutamente. Tenho uma lembrança olfativa daquele lugar belíssimo: uma cera de abelha que repousava sobre a janela da sala grande, talvez secando ao sol. Aquela casa me é resgatada pela memória quando sinto o cheiro de cera de abelhas.
Chegamos lá no veráo de 1980. A vegetaçáo que cercava a casa era belíssima, lembro de algumas árvores muito altas, talvez da mesma idade da casa. Entrando num caminhozinho à esquerda, encontravam-se os bois pastando, por onde descíamos mais alguns metros até encontrar um riachinho margeado por ramos e flores. Aquele lugar parecia um sonho. Eu o haverei sonhado?
Um dia fomos à feira. Ficava na cidade, que náo era mais que um povoado empoeirado. Lembro-me de uma mercearia grande, cheia de bolas canarinho dependuradas no teto e de muitas pernas de adultos caminhando de um lado a outro. Nessa visita vi, boquiaberta, estupefata, incrédula, maravilhada, piscando para ver se era mesmo verdade, pela primeira vez em minha vida, índios. Eles faziam compras entre as barracas, e quis alcançá-los e falar com eles, mas estava acompanhada bem de perto por meus pais e seus olhos e cuidados. Lembro de alguém dizer que eles náo tomavam banho. De longe náo dava pra ver se era verdade. Mas foi a coisa mais exótica que a menininha de quatro anos que eu era já havia visto na vida. Imaginem: índios de verdade!! Foi inesquecível...
Náo me lembro quantos dias passamos nessa casa de baús e poesia, mas parte da viagem se deu numa cidadezinha também do norte de Minas, náo me lembro agora se Minas Nova. As ruas eram de terra, havia uma poeira que doía os olhos e o nariz. A máe da minha tia tinha uma venda, dessas vendas mágicas do interior, onde se pode comprar de quase tudo. Encontrei, aí, uma chupeta rosa choque, com correntinha cobre, e a pedi a dona Lourdes, sogra do meu tio. Foi a glória! (Tinha quatro anos, e uma fase oral muito mal-resolvida...) Em algum momento da viagem minha chupeta desapareceu misteriosamente... Voltei a encontrá-la no fundo de um móvel da casa dos meus pais, entre um dos meus brinquedos favoritos, que era revirar as portas e desváos secretos da casa...
Vem um pouco dessa viagem meu gosto pelo antigo, pelo dezenoviano e pelo sertáo. Outro aspecto mágico dessa viagem foi a travessia em balsa que fizemos, creio que do Rio Pardo. Carro e gente sobre a balsa, olhava tudo abismada, e foi assim que o cruzamos, num pôr-do-sol que tingia o céu de lilás, um dos mais bonitos de que me lembro.
Quero desbravar o Jequitinhonha, o norte dessas Minas minhas Gerais. Isso tudo aqui faz parte de mim há muito tempo, há um tempo insuspeitado. Ave Minas! Ave Gerais!
Em 1980 (alguns de vocês talvez nem houvessem nascido ainda...), fomos - minha família e eu - visitar a família da esposa do meu tio Leone. Os seus avós viviam numa fazenda linda, antiga, com carros de boi, rodas d'água e uma casa que me faz arrepiar quando penso nela: construçáo do século XIX, piso de assoalho de madeira, portas e janelas muito altas, corredores e mistérios escondidos em grandes baús no quartos. É preciso que eu conte que quando era pequena os baús e os lugares fechados a chave me fascinavam absolutamente. Tenho uma lembrança olfativa daquele lugar belíssimo: uma cera de abelha que repousava sobre a janela da sala grande, talvez secando ao sol. Aquela casa me é resgatada pela memória quando sinto o cheiro de cera de abelhas.
Chegamos lá no veráo de 1980. A vegetaçáo que cercava a casa era belíssima, lembro de algumas árvores muito altas, talvez da mesma idade da casa. Entrando num caminhozinho à esquerda, encontravam-se os bois pastando, por onde descíamos mais alguns metros até encontrar um riachinho margeado por ramos e flores. Aquele lugar parecia um sonho. Eu o haverei sonhado?
Um dia fomos à feira. Ficava na cidade, que náo era mais que um povoado empoeirado. Lembro-me de uma mercearia grande, cheia de bolas canarinho dependuradas no teto e de muitas pernas de adultos caminhando de um lado a outro. Nessa visita vi, boquiaberta, estupefata, incrédula, maravilhada, piscando para ver se era mesmo verdade, pela primeira vez em minha vida, índios. Eles faziam compras entre as barracas, e quis alcançá-los e falar com eles, mas estava acompanhada bem de perto por meus pais e seus olhos e cuidados. Lembro de alguém dizer que eles náo tomavam banho. De longe náo dava pra ver se era verdade. Mas foi a coisa mais exótica que a menininha de quatro anos que eu era já havia visto na vida. Imaginem: índios de verdade!! Foi inesquecível...
Náo me lembro quantos dias passamos nessa casa de baús e poesia, mas parte da viagem se deu numa cidadezinha também do norte de Minas, náo me lembro agora se Minas Nova. As ruas eram de terra, havia uma poeira que doía os olhos e o nariz. A máe da minha tia tinha uma venda, dessas vendas mágicas do interior, onde se pode comprar de quase tudo. Encontrei, aí, uma chupeta rosa choque, com correntinha cobre, e a pedi a dona Lourdes, sogra do meu tio. Foi a glória! (Tinha quatro anos, e uma fase oral muito mal-resolvida...) Em algum momento da viagem minha chupeta desapareceu misteriosamente... Voltei a encontrá-la no fundo de um móvel da casa dos meus pais, entre um dos meus brinquedos favoritos, que era revirar as portas e desváos secretos da casa...
Vem um pouco dessa viagem meu gosto pelo antigo, pelo dezenoviano e pelo sertáo. Outro aspecto mágico dessa viagem foi a travessia em balsa que fizemos, creio que do Rio Pardo. Carro e gente sobre a balsa, olhava tudo abismada, e foi assim que o cruzamos, num pôr-do-sol que tingia o céu de lilás, um dos mais bonitos de que me lembro.
Quero desbravar o Jequitinhonha, o norte dessas Minas minhas Gerais. Isso tudo aqui faz parte de mim há muito tempo, há um tempo insuspeitado. Ave Minas! Ave Gerais!
2 comentários:
Gosto quando vc abusa da sua privilegiada capacidade de provocar sençações através de textos como este: descomprometido, poético, nada comprometedor...sem te expor.
Um "antigo" leitor.
Retificando: "sensações"
Deve ter sido o sono...
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