sexta-feira, outubro 27, 2006


Passei trinta anos olhando pros caras errados, trinta anos me envolvendo com os caras errados. Não quero ofender quem já passou pela minha vida, mas eu também não era a pessoa certa pra eles. Simplesmente me interessava por homens que não chegavam até minha alma, que não me compreendiam; eles me achavam linda, mas uma extra-terrestre. E?... (Como diriam os espanhóis: ¿Pues?...). Até hoje tenho a sensação de que eles me acham uma extra-terrestre, apesar de hoje eu ter aprendido a me envolver com os caras que pelo menos eu acho que são os "certos" pra mim. Talvez seja maniqueísmo da minha parte ficar pensando em "caras certos, caras errados"... Inclusive isso me dá um pouco de preguiça, fico com preguiça de mim mesma...

Mas o que eu preciso entender é o porquê de ser tão difícil haver encontros verdadeiros. Não quero me tornar uma pessoa cética, dessas que acham que o amor é um discurso inventado no século dezenove para vender folhetins. Nem quero ficar romantizando as relações que acontecem na minha vida, em suma: não quero extremos. Quero o meio-termo, o não-medo de gostar e de me envolver com alguém, de me envolver com a pessoa que me importa, que me interessa.

Bom, voltando aos trinta anos, essa idade é um marco. Um pé ainda mergulhado na coisa fresca da juventude, um pé envolto na maturidade incipiente. Momento de decidir coisas importantes, o corpo muda radicalmente, é hora de pensar seriamente que as taxas de hormônio se alteram irremediavelmente, que é preciso planejar o futuro, a aposentadoria, as viagens que precisam acontecer, o projeto de Doutorado (mais do que na hora...), a definição profissional urgentíssima, e escrever livros e coisas afins. Trinta anos. E chegaram tão rápido, e não sou mais que uma borboleta que saiu do casulo...

Mas preciso falar de sentimentos, de encontros. Preciso que alguém se habilite a me responder por quê as pessoas têm medo de sentir. Por quê esse medo grandioso de sentir afeto, que é o que move; por quê o medo de se entregar inteiro ao outro... Medo de se perder?...

Talvez minha curiosidade seja demasiado metafísica, e minha forma de sentir demasiado equivocada. Vá lá, tenho muitos defeitos, sou infinitamente humana. Mas minha forma de gostar também é intensa e, por isso mesmo, imperfeita. E o que me dói nesses trinta anos é que não basta que eu ame intensamente, nem que declare esse sentimento, porque o encontro depende do outro também. Dependo do tempo do outro, da forma como o outro me vê e me sente, dependo das circunstâncias para que aconteça o encontro.

Encontrei uma flor especial entre as flores especiais com que cruzei ultimamente. Uma flor cujo néctar me alimenta e me faz sonhar. Mas parece que borboletas e flores falam linguagens diferentes, ainda não conseguimos chegar a um diálogo satisfatório, apesar de tudo. Pareço o pequeno príncipe, com sua flor entre tantas flores, mas é isso mesmo. É uma metáfora perfeita. Será possível que flores e borboletas se toquem? Ainda tenho muito a ver nos meus dias, os trinta anos não foram nada.

Au revoir, les jeunes. Bisou.

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