domingo, setembro 27, 2020

Arnaud fait son 2ème film


 

Com o título, no Brasil, de "Amor, Paris, Cinema", o diretor Arnaud Viard nos traz uma delícia de longa-metragem em que ele mesmo protagoniza uma história metalinguística: um diretor tenta escrever e dirigir o seu segundo longa. A história é leve e divertida, mas também conta com as pegadas melancólica, crítica, psicanalítica e poética do bom cinema francês. Ao lado de uma lindíssima Irène Jacob, Viard nos conta uma história criativa e que poderia ser vivida por qualquer ser humano que está perseguindo um sonho, como eu ou você.  

Arnaud é um homem de 45 anos que escreve roteiros, atua e dirige. Como ele mesmo se apresenta, "é diretor e ator". Atua para sobreviver, mas sua grande paixão é dirigir. Começa sua narrativa contando do bloqueio que teve ao realizar seu primeiro filme, em 2004. Se vamos assistir a uma história autobiográfica, não poderemos afirmar. Mas a criatividade artística e a potência sexual são dois motes para o deslanchar do nosso filme.

Arnaud tem dois sonhos: ter um filho e fazer o seu segundo filme. Como casal de meia idade, Chloe e Arnaud já têm alguma dificuldade para engravidar, o que termina por angustiá-los. Então começa a metanoia de Arnaud: separa-se de Chloe, começa a dar aulas num workshop de cinema, conhece Gabrielle, uma mulher muito mais jovem que ele. A tentativa de reconstruir a vida, de encontrar alguma vitalidade em meio aos desencontros - não havia conseguido que o produtor aceitasse o seu roteiro; não havia conseguido ter um filho com a mulher que amava -, o levam a se reinventar em meio à destruição dos sonhos. Sente-se feliz com a jovem Gabrielle, gosta das aulas e dos alunos, diverte-se bebendo da juventude que o rodeia. Mas sentimos que nem tudo está ali.

                                      Louise Coldefy e Arnaud Viard, em cena de Arnaud fait son 2ème film
 

As idas às sessões com o psicanlaista e as visitas à mãe hospitalizada começam a descortinar o íntimo de Arnaud. Nas cenas em que vai no trem - momento da espera, momento de instrospecção -, a ideia de perder a mãe e a busca pelo lugar de pai vão se somando no retrato que o filme constrói de nosso protagonista. Há cenas lindíssimas, como o diálogo tecido com a mãe, no trem que o leva de volta a Paris, depois de visitá-la no hospital. O diálogo é parte da despedida, antecipação do que está por vir. A mãe está em estágio terminal, sente dores, mas não quer dar trabalho aos filhos. Igualmente me encantou a cena da festa dada pelos alunos, em que Arnaud dança alegremente enquanto a música alegre é substituída pelo "Requiem in Paradisum", de Gabriel Fauré, e, lindamente, migramos do êxtase da festa para o êxtase da morte, momentos em que o sagrado toca os corpos humanos, momentos sublimes em que o amor ágape e a morte encontram morada. Arnaud recebe o telefonema que traz a notícia da morte da mãe, despede-se de Gabrielle, sai da festa e vai ao encontro de Chloe. Eros guia nossos amantes, nada mais erótico e íntimo que amar-se diante da morte da mãe. Arnaud pergunta-se e pergunta a Chloe por que eles não deram certo. Diante da perda da mãe, ele busca o consolo nos braços amorosos de Chloe, e, magicamente, nesse momento, concebem um filho. Fim e começo se enlaçam, um símbolo de que a vida é cíclica e infinita.

Irène Jacob, em cena de "Arnaud fait son 2ème film" (2015)

Arnaud finalmente consegue um produtor para o seu segundo filme e, justamente quando realiza esse sonho, Chloe o procura revelando que ele é pai, que ela está indo parir. A metáfora do nascimento, que tantas vezes é usada na arte, associa-se na concepção de uma obra e de um filho. Dois projetos que já se davam por fracassados, que haviam sido abandonados por Arnaud. Chamado pelo telefone, é convocado a assumir a realização do seu segundo filme e também o nascimento do seu filho. Sonhos que talvez já fossem inesperados. Sonhos que ele talvez já estivesse disposto a esquecer. Mas a Vida às vezes é assim, não é mesmo? Às vezes os sonhos correm atrás da gente. 💓


Irène Jacob foi um lindo reencontro, para mim. Meu primeiro momento com a senhorita Jacob foi nos clássicos "A Dupla Vida de Veronike" e "Rouge", ambos de Kieslowski. Reencontro-a madura, igualmente bela, com a mesma força da juventude. Arnaud Viard foi uma grata surpresa, já quero ver "Clara et moi", o seu primeiro filme. É muito bom ver diretores que entram na pele de seus protagonistas, como o fizeram Woody Allen, Nanni Moretti, entre outros. Inclusive, é muito boa a crítica escrita por Rodrigo Torres sobre "Amor, Cinema, Paris". Ele afirma que  o formato de "Arnaud fait son 2ème film" estaria baseado em "Caro Diario", do diretor italiano. "Caro Diario" é um filme de que gosto muito (amo as idas pelas ruas de Roma montado em uma vespa, eu me senti e me sentei na garupa de Moretti...), foi meu primeiro encontro com Moretti, no comecinho dos anos 2000, seguido pelo belíssimo "O Quarto do Filho" (chorei baldes...), ambos imperdíveis. 

sábado, setembro 12, 2020

Depois do casamento (Sorry, tem spoiler)



O que você acharia de, ao perder sua mãe, ganhar outra? E o que acharia de, ao perder esta, recuperar a primeira? Essa roda viva é o que vive Grace (Abby Quinn), no belíssimo After the Wedding (do diretor Bart Freundlich, 2019), remake de Efter Brylluppet, filme dinamarquês, de Susanne Bier (2006), sobre o qual escrevi uma postagem na época do lançamento (leia-a clicando aqui). O título é homônimo, mas a refilmagem adaptou alguns aspectos da história inicial, mantendo a essência dos personagens e da trama. 

A história começa na Índia, com a personagem Isabel, maravilhosamente interpretada por Michelle Williams, quem administra um orfanato em dificuldades financeiras. Ao receber uma proposta de ajuda econômica da empresária estadunidense Theresa (interpretada por Juliane Moore), precisa viajar a Nova Iorque para assinar papéis, e é quando a nossa história encontra o seu conflito.

Theresa condiciona Isabel a permanecer em Nova Iorque por mais tempo que o necessário para a assinatura dos papéis da doação, e a convida para o casamento da sua jovem filha, Grace. Durante a festa, Isabel descobre que o marido de Theresa é Oscar, seu amor do passado e para tornar um pouquinho mais dramáticas as coisas, Grace revela aos convidados (e aos espectadores) que Theresa é sua mãe adotiva. Nesse momento, Isabel se dá conta de que foi pega em uma armadilha do destino: a filha que tivera aos 18 anos, e que teria sido supostamente entregue em adoção por Oscar, na verdade havia sido criada por ele e acabava de se casar, ali, diante de seus olhos.

Isabel descobre a traição de Oscar e decide pedir-lhe respostas. Nós, espectadores, tal qual na versão dinamarquesa, nos damos conta de que Theresa teria reunido os dois, na tentativa de juntar as pontas da vida de Grace e também de preparar o terreno para quando ela morresse. Descobrimos, então, que Theresa tem uma doença em estágio terminal e que tanto Grace quantos os pequenos gêmeos de 8 anos precisam de uma mãe substituta. O cuidado e o amor de Theresa também se voltam para quem estará ao lado de Oscar, "jogando-o" nos braços de Isabel.

Não sou muito fã de ficar dando sinopses da história, me interessa analisar situações, entender conexões, fruir do que o filme me proporciona. Depois do casamento de Freundlich tem leveza, mas também intensidades. É uma proposta bem diferente do estilo do homônimo dinamarquês, mas no remake estadunidense encontramos a história sensível e bem contada, pronta para a nossa sessão.

As mães se substituem numa dança harmoniosa e triste: quando uma sai de cena, entra a outra. A filha sempre terá o amparo e o amor de uma delas, apesar de as duas coexistirem enquanto dura o filme, em todas as cenas em que negociam a permanência de Isabel em Nova Iorque. Isabel, mãe de dezenas de órfãos indianos, talvez tentasse encobrir a mãe ferida que precisou deixar a filha aos cuidados de outros, quando ainda era uma adolescente. Ela não tinha estrutura para cuidar de uma criança quando teve Grace. Mas agora a recupera, vinte e um anos depois, quando Grace já é uma mulher, mas sabemos que o ser humano nunca é suficientemente maduro para abrir mão do amor materno...

Impossível não se encantar pelo belo figurino tão ao gosto das cores das especiarias indianas - do açafrão à canela -, com seus tons fortes e suas cores quentes e vibrantes. Impossível não perceber a maneira delicada como a história é contada.



Vejo que fiz uma análise muito mais densa do filme dinamarquês, mas hoje me sinto um pouco cansada, talvez eu volte depois para um post scriptum

O que posso dizer para finalizar, é que as coisas que realmente importam, os sentimentos fundamentais na vida do ser humano, esses estão presentes na história contada por Freundlich. Agradeço a delicadeza e a intensidade. 



quarta-feira, agosto 12, 2020

Princípio da realidade

Trabalho com adolescentes há pouco mais de um ano, e tem sido um curso intensivo para mim. É daqueles trabalhos em que mais que ensinar, você aprende. E para mim têm sido muitos os aprendizados sobre o ser humano, em todos os seus meandros e dobras.

Ao entrar em contato com pessoas que estão vivendo a travessia da infância para a vida adulta, entrei em contato com muitas questões da alma humana, dessas que às vezes recalcamos quando não as vivenciamos adequadamente. Hoje, do alto da montanha que construí com minhas experiências de vida, vejo quão importante é trabalhar com esses jovens certas habilidades socioemocionais fundamentais para enfrentar o ambiente acadêmico, para conviver em grupo, para aprender de maneira satisfatória. E, por que não?, para a Vida. Mas não é fácil.

Em janeiro deste ano, li um texto que mudou meu olhar para o meu trabalho. Trata-se de uma publicação sobre habilidades socioemocionais, livro escrito por Anita Lilian Zuppo Abed e que está disponível gratuitamente no site do MEC, basta clicar aqui

A autora de O Desenvolvimento das habilidades socioemocionais para a aprendizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica me ofereceu uma leitura agradável, didática e esclarecedora sobre as habilidades socioemocionais e me fez revisitar os principais teóricos do desenvolvimento humano. Tal leitura me propiciou um ótimo resgate de teorias, conceitos e olhares sobre a criança e o adolescente e sobre o aprender e seus significados. 

Noto que as habilidades socioemocionais são subestimadas no ambiente escolar, ou pelo menos não recebem o lugar de destaque que mereceriam ter. A escola, de um modo geral, não destina seu tempo ou seu currículo a desenvolver tais competências nos estudantes. Talvez seja um problema que encontra raízes mais profundas na cultura: talvez  o processo educacional esteja mais "racionalizado", em detrimento do trabalho com as emoções, que pertenceria a um âmbito imbricadamente pessoal e, talvez, íntimo, nesse perigoso e infeliz divórcio entre razão e emoção de que nos fala Eduardo Galeano. Mas enganam-se a escola e a cultura. 

É preciso fomentar o exercício dessas habilidades, e a busaca da consciência de si mesmo me parece uma caminho muito acertado. O trabalho acerca de questões como "quem sou", "que lugar ocupo no mundo", "aonde quero ir", "qual é meu projeto de existência", "como lido com meus medos e minhas dificuldades", "como lido com meu sucesso e minhas conquistas", e, para citar mais uma entre múltiplas outras possibilidades "como convivo com meus colegas e professores", nos ajudam a traçar um mapa dos nossos aprendizes e de como andam as suas habilidades socioemocionais. 

É bem certo que o nosso fazer como docentes muitas vezes se vê tragado pelo currículo que nos impõe conteudismo e um cronograma muito apertado a serem cumpridos, mas pequenos momentos do cotidiano são suficientes para fomentar o desenvolvimento dessas habilidades socioemocionais. Pequenos vídeos e textos são milagrosos como catalisadores de emoções e para refletir sobre as questões que se queira trabalhar e discutir com os alunos.

O professor pode ter um pequeno cronograma especial com aquilo que quer propiciar aos alunos e basta destinar um pequeno tempo para essas práticas. Nem precisa ser em todas as aulas. Pode ser na primeira ou na última aula da semana. É possível ler um pequeno texto, ver um curta-metragem, e a mágica vai se realizando. O olhar dos alunos, sua sensibilidade vão ser atingidos por esse exercício sutil sobre os sentidos. Valores também vão sendo cultivados, tais como empatia, solidariedade, respeito, etc. Quando conseguimos atingir o ser sensível de nossos alunos, quando exploramos o "olhar para o outro", conseguimos também o "olhar para dentro de si mesmo", tão necessário para desenvolver as habilidades que buscamos acerca de como lidar com aquilo que sentem.

A boa e velha conversa sempre é um método de abordagem que também dá ótimos resultados. Conversar é algo tão antigo, mas tão humano! E certas coisas - como os sentimentos, como conviver -são atemporais e não passam de moda nunca!

(P.S.: Este texto começou a ser escrito em 2018, ficou arquivado e só foi finalizado em 2020)

domingo, abril 15, 2018

Hoje estive refletindo sobre ser flexível diante das dificuldades que a vida nos oferece. Muita gente é muito "terra", muito rochosa, e esquece de que seu corpo é, em grande porcentagem, água. Nós somos seres líquidos, ou pelo menos deveríamos ser. E essa porção líquida tem muito a nos ensinar e nós, muito a aprender com ela.
A fluidez  da água a ajuda a tomar a forma das margens, a adaptar-se ao que está ao redor.
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quinta-feira, dezembro 18, 2014

Foto-poema

Título: Vala comum

02 de dezembro de 2014


segunda-feira, julho 28, 2014

Poetas e seus temas - parte 2

Esta canção, lindamente interpretada por Mercedes Sosa, fala do suicídio da poeta Alfonsina Storni.

Poetas e seus temas

Há tempos não ouço falar sobre suicídios de escritores. Vários grandes escritores nos deixaram este ano, mas por morte natural, vitimados pelo peso dos anos e a decrepitude do corpo e foram lá, se juntar à maioria, como diziam os romanos.

O suicídio, esse gesto voluntário e abnegado, se materializou entre muitas e muitas gerações de escritores e sensíveis. A alma sensível não suportará o peso do mundo? As omoplatas são frágeis, o estômago é lento ao digerir, a lombar dói insistentemente? Busco respostas para o que leva a alma sensível a saltar no abismo escuro e fundo da morte a si mesma. O mundo tem um preço alto a quem é capaz de suportá-lo, é o que sempre me pareceu. A sensibilidade me soa como algo incompatível com a crueza da Vida. 

Há quem fale, inclusive, dos suicídios políticos, uma escolha pela morte diante de contextos políticos insustentáveis e indigestos. O caso de Neruda, por exemplo. Muitos dizem que Neruda praticamente escolheu morrer depois de bombardearem La Moneda e tomarem, de golpe, o Estado conduzido por Allende e pela Unidad Popular. Neruda "decidiu" que viver não valia nada, diante dos algozes fardados. E, como ele, há tantos suicídios políticos por aí, corações que deixam de bater porque a desilusão se instalou profundamente entre as artérias, e já não há saídas...

Há, também, os suicídios femininos. Acredito que sejam datados, pois uma geração inteira de mulheres - escritoras e poetas - ceifou a própria vida ao longo do século XX. Qual era esse contexto? O quê as levou a buscar saída tão drástica diante de seus conflitos pessoais, dos becos sem saída em que nos metemos vez ou outra, e diante da linha - sim, uma linha - simples e torta que é viver?

A lista é grande: Virginia Woolf, Ana Cristina César, Alejandra, Pizarnik, Florbela Espanca, Sylvia Plath, Anne Sexton, Sara Teasdale, Alfonsina Storni, Violeta Parra. Mulheres poetas, almas sensíveis que se atreveram a ser mais do que lhes era permitido à sua época. Elas nos deixaram lindos poemas, versos intensos como sua passagem por este planeta azul, mas decidiram que ninguém, exceto elas mesmas, decidiria o momento de deixar este mundo. Afogaram-se, estouraram seus miolos, tomaram veneno, barbitúricos, atiraram-se do oitavo andar, asfixiaram-se com gás ou com monóxido de carbono... 

O caminho de viver era difícil, ou era difícil o ofício da escrita? Em que momento decidiram que viver já não valia a pena? A morte que tiveram as imortalizou, ou foi sua obra que o fez? O preço pago pelas mulheres para trazer à luz a sua arte era pagar com o próprio sangue a celebridade de seus versos? Essas perguntas ficam todas no ar. 

Compartilho os versos de duas delas, porque o que escreveram pode servir de chave de entendimento para o seu suicídio. 

Deseando morir (Anne Sexton)

Ahora que lo preguntas, la mayor parte de los días no puedo recordar.
Camino vestida, sin marcas de ese viaje.
Luego la casi innombrable lascivia regresa.

Ni siquiera entonces tengo nada contra la vida.
Conozco bien las hojas de hierba que mencionas,
los muebes que has puesto al sol.

Pero los suicidas poseen un lenguaje especial.
Al igual que carpinteros, quieren saber con qué herramientas.
Nunca preguntan por qué construir.

En dos ocasiones me he expresado con tanta sencillez,
he poseído al enemigo, comido al enemigo,
he aceptado su destreza, su magia.

De este modo, grave y pensativa,
más tibia que el aceite o el agua,
he descansado, babeando por el agujero de mi boca.

No se me ocurrió exponer mi cuerpo a la aguja.
Hasta la córnea y la orina sobrante se perdieron.
Los suicidas ya han traicionado el cuerpo.

Nacidos sin vida, no siempre mueren,
pero deslumbrados, no pueden olvidar una droga tan dulce
que hasta los niños mirarían con una sonrisa.

¡Empujar toda esa vida bajo tu lengua!
que, por sí misma, se convierte en pasión.
La muerte es un hueso triste, lleno de golpes, dirías.

y a pesar de todo ella me espera, año tras año,
para reparar delicadamente una vieja herida,
para liberar mi aliento de su dañina prisión.

Balanceándose allí, a veces se encuentran los suicidas,
rabiosos ante el fruto, una luna inflada,
Dejando el pan que confundieron con un beso
Dejando la página del libro abierto descuidadamente
Algo sin decir, el teléfono descolgado
Y el amor, cualquiera que haya sido, una infección.

In: http://www.poeticas.com.ar/Directorio/Poetas_miembros/Anne_Sexton.html

La última inocencia (Alejandra Pizarnik)


Partir
en cuerpo y alma
partir.

Partir
deshacerse de las miradas
piedras opresoras
que duermen en la garganta.

He de partir
no más inercia bajo el sol
no más sangre anonadada
no más fila para morir.

He de partir

Pero arremete ¡viajera!

In: http://www.los-poetas.com/e/pizarnik1.htm#NOCHE





quarta-feira, março 19, 2014

Tributo a Cláudia

Fonte: Jornal Extra


Eu não consigo parar de pensar em Cláudia Ferreira da Silva, e que ela poderia ser eu, e que eu poderia ser ela. Por alguma razão, as pessoas nascem Cláudias ou Fabianas, têm chance de nascer numa família de classe média, ir a boas escolas, frequentar uma boa universidade, construir uma carreira profissional; e, talvez, -algum dia - ter uma vida de classe média. Ou, então, todo o contrário. Cláudia era faxineira. Cláudia tinha quatro filhos. Cláudia morava na favela. Um dia, ela foi baleada. Cláudia saiu de casa para comprar pão. O pão era para o café dos pequenos. Foi socorrida - ou foi emboscada?? - por um camburão da PM. No caminho, o porta-malas se abriu e seu corpo foi cruelmente arrastado pelo asfalto carioca, dilacerado, esfolado como um bicho. Cláudia morreu duas vezes. Pelas balas e pela falta absoluta de dignidade. Cláudia deixa inconsolável a Alexandre Fernandes da Silva e a seus rebentos. E não consigo parar de pensar que Cláudia poderia ser eu, não consigo deixar de pensar que Cláudia, meus caros, sou eu. 

sábado, fevereiro 23, 2013

Projetos de leitura: Paul Auster


Inicio meus projetos pessoais de leitura para 2013. O autor para começar essa aventura é Paul Auster. Auster já é velho conhecido deste blog, e já apareceu por aqui em outros momentos, quando falei sobre o seu Noite do oráculo. Simplesmente amo Paul Auster!

O primeiro livro que li deste adorável autor norte-americano foi No país das últimas coisas, em 1996, como parte dos créditos de uma disciplina de Teoria Literária, na Faculdade de Letras. Trata-se de uma história que se passa numa sociedade pós-apocalíptica, e é simplesmente incrível deparar-se com o que resta de humanidade nas personagens. 

No meu projeto de leitura, o primeiro texto foi Noite do oráculo, que reli com sofreguidão, seguido por A trilogia de Nova York e o curtinho e delicioso O caderno Vermelho. Na sequência, me espera Viagens no scriptorium

Virei depois para escrever uma pequena resenha sobre cada um dos textos. Começarei por Noite do oráculo, e pretendo falar um pouco sobre cada um dos livros que consiga encontrar.

Estou muito entusiasmada com meus projetos de leitura para este ano! 

Saudações literárias,

Biazinha

terça-feira, outubro 02, 2012

Os esmaltes da minha avó

Eu vou confessar algo: desde que minha avó se foi, eu tenho usado as cores de esmalte de que ela gostava. Primeiro foi inconsciente, uma cor aqui, outra ali; depois eu me dei conta desse movimento em busca da essência da avó, da infância, do afeto, e assumi de vez essa tentativa de aproximação, de registro, de presentificar a avó saudosa.

As cores? São cores próximas ao rosa antigo, ao café com leite, ao acinzentado. E não há uma cor apenas, basta eu ver a cor e sei imediatamente se ela gostaria dela, e vou lá e compro. Claro que não é todo dia que compro esmaltes, mas essa busca tem sido uma constante nos últimos dois, três anos. É bonito de viver.





sábado, janeiro 21, 2012

Saturno devorando seus filhos. Rubens, 1636.

Não foi por casualidade que os gregos criaram o mito de Cronos devorando seus próprios filhos. O tempo, ah, o tempo!... A verdade é que me sinto muito pouco efetiva diante dos relógios. Já levo 35 anos tentando me equilibrar nessa corda bamba, e, vez ou outra, me esborracho feio do alto da corda diretinho no chão. Uma dorzinha fica num músculo ou num osso, levo dias no remorso de que poderia ter feito melhor, ter dado mais de mim, mas de novo me esborracho, não demora. Por isso faço listas, listas intermináveis, são a vã tentativa de controlar os ponteiros, de domar esse relógio que me governa. Inconscientemente, resisto ao jugo de Cronos, prefiro práticas gregas antigas como o ócio criativo, momento em que dou o melhor da minha energia, e de onde saem minhas melhores ideias... O mundo é tão grande, as coisas boas por viver são tantas, e o dia passa rápido, o dia voa, me atropela, e não consigo fazer tudo de que tenho vontade, sofro, meninos, sofro. E já se foram 35 anos, não fiz nada, resta-me um consolo ao qual aferrar-me: existem outras vidas depois desta.

quinta-feira, maio 26, 2011

Sobre maternidade

Estou escrevendo um blog sobre maternidade, o link é o http://domeuproseuumbigo.blogspot.com/

Boa viagem para todos nós!!

:)

domingo, abril 03, 2011

O arco e a flecha

Créditos da foto: daqui.

Levei trinta anos para aprender a me defender dos arcos de quem quisesse, ou tentasse, me ferir. Trinta anos para aprender que ninguém tem o direito de fazer julgamentos superficias, ou de me avaliar pela casca, ou de pensar que pode me dizer, perversamente, quem sou, ou o quê tenho que fazer ou pensar. Foi um treinamento duro, que passou por várias esferas de mim, até atingir a totalidade e a maturidade do processo. E hoje, me sinto leve, em paz, completa e pronta para defender a mim mesma e, também, outras pessoas.

Revelação: às vezes, são pessoas próximas de você (pessoas da sua família, colegas, vizinhos) os que te ferem. Por desconhecimento, ingenuidade, crueldade ou prazer eles escolhem seu alvo e te mandam flechas. Por afeto, respeito, ingenuidade ou "educação", você não se defende. E muitas vezes você cria a falsa ideia de que mesmo as pessoas que se amam se ferem. Não, não é bem assim. Quem ama de verdade, quem respeita o objeto de seu amor, não o fere. Ou pelo menos cuida de não ferir, até porque quem ama de verdade preza pelo outro, cuida, protege.

Curiosamente, não contei com muita gente que me defendesse das flechas sutis. Tive a defesa das coisas grandes, dos grandes abismos que beiram os caminhos, mas alguma pequena flecha conseguia atravessar os cercos do afeto e da proteção familiar, e me atingiam em cheio no coração. Porque há uma coisa: dessas pequenas flechas, a gente tem que aprender sozinhos a se proteger. Até porque o caminho se trilha na maior parte das vezes por conta própria, sem ter quem nos carregue nos braços. E é para isso que temos pernas, para isso levamos dois anos aprendendo a nos erguer, nos equilibrar, caminhar, saltar de uma perna, correr. E, apesar das pernas longas, eu tinha um coração aberto, ou, nas palavras de um amigo, "recebia todo mundo pela porta da frente". Aos poucos - e isso me custou muito trabalho!!-, fechei a porta e o coração, e só os abro agora aos que demonstram merecê-lo de verdade. Foi um processo difícil, mas que se mostrou extremamente gratificante, uma construção diária e exaustiva de mim mesma.

O meu trabalho interior agora responde a apagar o que ficou sem resposta. As flechas que feriram e deixaram alguma pontinha envenenada sob a pele; as que pegaram de raspão e igualmente não foram atiradas de volta; as vezes em que me deixei ser alvo fácil e as que não fui capaz de alçar o arco.

Todos nascemos com arco e flecha. O que a Vida faz é nos ensinar a empunhá-los, usá-los com destreza, observar o alvo e defender-nos quando for o momento preciso. Levei trinta para me autorizar a empunhar meu arco, e agora também já sei me esquivar dos ataques. Sinto-me pronta para viver plenamente a Vida. Mesmo que haja alguma ferida pelos caminhos, pois essa parte é inevitável.

domingo, março 20, 2011

Carta à amiga que se foi

Encontro forças no amor e amizade que senti e sinto por ela durante nossos 20 e tantos anos de amizade e afeto para vir aqui escrever. E também no rivotril que me ministraram no hospital para acalmar os nervos. Cheguei em casa e não pude fechar os olhos. Estou como em transe: o mundo parece irreal, e não consigo reagir a nada. Meu amado me serviu o almoço na cama (já eram quase cinco da tarde) e fiquei ali, tentando buscar o sono, o mergulho no abismo onde não houvesse essa dor, essa tristeza, essa saudade. Mas o sono não veio. Levantei e vim afogar minha saudade em sorvete com aveia. Comer para preencher o vazio. Uma compulsaozinha para minimizar a dor. Sei que ela brigaria comigo, me diria "cuidado com o açúcar, cuidado com a diabetes gestacional", como fez esses dias nos seus arroubos para que eu tenha uma gravidez saudável.

Saí do pronto-socorro e a rua parecia um cenário distante. Fazia por volta de 26º, mas eu sentia frio, um frio na alma, inexplicável. Me dei conta de que um pedaço do meu coração se foi. Loteamos nosso coração ente aqueles que amamos incondicionalmente, e ela era uma dessas pessoas. Eu a amava incondicionalmente. Não importava se um dia brigássemos, ou se ela ou eu sumíssemos, o amor ficava ali, intocado. E foi assim por todos esses anos de amizade.

Ainda estou em estado de choque. Não acredito. E por não acreditar, parei de chorar um pouco. Talvez seja o efeito do rivotril. A preocupação de todos da minha família é que eu fique bem para não fazer mal ao bebê. Eu também estou preocupada com isso. Mas o que fazer com essa dor dentro do meu peito?

Amiga querida da minha alma, onde quer que você esteja, saiba que te amarei para sempre, como a irmã que você sempre foi pra mim. e a irmã que fui pra você. Sua partida tão breve me ensina as mesmas lições que tentei te passar outro dia, quando você falava de ainda não ter superado a ida de vó Pazinha e de Simone. Nunca vamos deixar de amá-las, só vamos aprender a esperar pelo reencontro, que um dia virá.

Você me ensinou tantas coisas! E agora, neste momento de dor, continua me ensinando. Vou lamentar que você que não esteja aqui para meu bebê aprender a te chamar de tia e te amar como eu te amo. Vou sentir muita saudade, saudade de quem fui ao seu lado, de todas as coisas maravilhosas que vivemos juntas, compartilhamos, de como crescemos com os erros e acertos uma da outra!

Onde você estiver, saiba que vou continuar rezando por você e para que um dia a gente volte a se encontrar, minha querida! Saudades, muitas saudades, saudades eternas, Katinha.

Da irmã que te ama e te amará eternamente,

Bia

terça-feira, março 15, 2011

Gentileza masculina

Eu já escrevi aqui sobre algo parecido em outra época; e me dá tristeza ver que volto porque o tema continua me incomodando e, agora, em maior intensidade. O que tem me deixado intrigada nos últimos tempos é uma questão simples: Aonde foi parar a gentileza masculina com as mulheres? E repito: meu feminismo não me impede de receber e gostar de gentilezas masculinas. Ao contrário: amo gentilezas masculinas, eu as acho adoráveis e imprescindíveis. E não poderia ter me casado, por exemplo, com um homem que não fosse gentil.

Fico indignada com como os homens mais jovens não aprenderam, ou não colocaram em prática nunca, ou se esqueceram, ou ignoram, ou desprezam, ou não acham digno de si ser gentis. Talvez não se trate apenas da falta de gentileza com as mulheres, mas, sim, com os outros homens também. E qual é a razão para tal falha imperdoável? A falta de civilidade que se vulgarizou em todos os lugares? A pressa para existir real e virtualmente? A banalização das relações interpessoais? O que são valores considerados bons e importantes hoje em dia?

Ultimamente, tem me chocado me deparar com cenas de descortesia e até hostilidade masculinas. E não necessariamente comigo, heim? Vejo cenas ao meu redor, e me chocam! E insisto: principalmente, dos homens mais jovens. Acho que os únicos gentlemen que encontrei nas últimas semanas tinham mais de 65 anos...

Homens, por favor, saiam em defesa própria, e ajudem-me a compreender este desagradável fenômeno social! A tribuna está disponível!

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Nos últimos dias, tenho vivido experiências de vida e morte muito curiosas. Dentro de mim, cresce um bebê. Cresce, se move incessantemente, vibra como uma estrela brilhante no céu. Eu já o sinto, e isso me alegra muitíssimo! É a experiencia mais bonita e mágica que já vivi! Uma vida cresce dentro de mim, se nutre do meu sangue, do meu oxigênio, é, no mínimo, a coisa mais terna e mais doce que alguém pode vivenciar!

Em contrapartida, hoje, vivi uma experiência muito estranha relacionada com a morte. Telefonei para a clínica onde atendia um dos meus médicos. Eu comecei a me consultar com ele em 2008, e o visitava com frequência para um tratamento que realizei até mediados do ano passado. Em setembro, eu o vi por última vez, ele se mudou para outra clínica e o fim de ano fez com que eu só voltasse a procurá-lo hoje, para poder retomar as consultas esporádicas. Qual não foi minha surpresa ao ligar para a clínica e ouvir da secretária que ele havia falecido! Como assim "falecido"?!, perguntei, atônita, à moça. Ela repetiu: "Sim, faleceu, em outubro". Foi tão estranho ouvir isso!!... Como ele pode morrer sem me avisar??, era o estranho pensamento que passava pela minha cabeça. Como se a morte contasse com avisos, com despedidas, com letreiros de "vira à direita", "vira à esquerda"... Depois perguntei à moça de quê havia morrido, ela me disse que de um aneurisma, que ele havia começado naquela clínica havia poucos dias e então, aquela fatalidade... Nunca havia vivido algo assim, desliguei o telefone e abri o bocão a chorar... Era a sensação de haver sido abandonada pelo médico... E eu volto a repetir: muito estranho viver tudo isso.

E é a dança da vida: onde vida e morte se tocam em determinados pontos, e parece que uma voz diz "foi assim desde o começo dos tempos..." e isso me serve de consolo.

Nos últimos dias, pessoas da minha família também adoeceram e um tio avô faleceu... São as formas em que o milagre da vida se mostra, não é mesmo? É o equilíbrio eterno entre o perder e o ganhar...

Vou tentar fazer prevalecer a alegria de estar viva e a de que cresce dentro de mim o meu bebê!!!

Beijos, até a vista!

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Un poco de literatura


Um pouco das leituras destes dias:

"[...] para la Cruz Roja, ser del grupo cero significa ser donante universal, es decir, significa que poseemos la sangre igual a muchos otros. Pero no es verdad. La sangre es tan personal que no es transferible. Porque no está hecha sólo de glóbulos blancos y rojos, sino que está compuesta sobre todo de recuerdos. No hace mucho tiempo, leí en una revista especializada que algunos científicos de indiscutible fama han intentado establecer el lugar en que se halla el punto central y más íntimo del conocimiento, al que han llamado 'alma'. La han situado en cierta parte del cerebro. No estoy de acuerdo con ellos: el alma reside en la sangre. No en toda la sangre, naturalmente, sino en un solo glóbulo que está mezclado con miles de millones de otros glóbulos, y, por lo tanto, nunca será posible dar con él, con ese pequeño glóbulo que contiene el alma, ni siquiera con el más perfecto de los ordenadores, con el que se acerque a Dios (porque a eso tendemos). Los que, en la historia de la humanidad, han comprendido y demostrado cuál es ese glóbulo que transporta el alma son los artistas y los místicos. Un artista sabe que en una de los miles de páginas de sus libros, por ejemplo la Recherche de Proust o la Divina Commedia de Dante, hay una sola palabra que es ese glóbulo que transporta su alma: y todo lo demás podría tirarse. Debussy sabe que en su Après-midi d'un faune, o en su Danza sagrada y profana sólo hay una nota que encierra su alma. Leonardo da Vinci sabe que en su Virgen de las rocas, o en la Gioconda sólo hay una pincelada donde en verdad se contiene su alma. Lo sabe, pero sin saber dónde se encuentra. Y ningún crítico y ningún exégeta podrá descubrirlo jamás. ¿Por qué?

Porque hay una alambrada que rodea a esa gota de sangre. [...]"

In: Tabucchi, Antonio. Se está haciendo cada vez más tarde. Barcelona: Editorial Anagrama, 2001. Pp. 103-104.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Olhares sobre as eleições - parte XXIII

Mais um bom texto recebido por email:

É hora de tomar partido: um basta aos reacionários tucanos!

O significado de uma vitória tucana será catastrófico não só para o País, mas para o todo o território latino

25/10/2010

Roberta Traspadini

Estamos às vésperas do segundo turno. O momento atual é de intensa mobilização contra a campanha tucana em todo o País. É importante que assim seja. Caso contrário, corremos o risco de não aproveitar essa oportunidade histórica para ler, incidir, dialogar entre nós classe trabalhadora, sobre o que vemos, e porque vemos a disputa da forma que vemos.

O significado de uma vitória tucana será catastrófico não só para o País, mas para o todo o território latino.

Para nós, classe que vive do trabalho, o momento é de estarmos nas ruas, nas células organizadas, discutindo o que se quer para além do que se tem, e os riscos manifestos com as apostas que podem ser feitas no curto prazo.

Todo projeto tem por trás uma concepção de mundo que relata sua forma e seu conteúdo de poder. Vejamos as bases conceituais dos tucanos.

1. O projeto de nação do PSDB

O projeto de Nação do PSDB, cujos principais intelectuais orgânicos são Fernando Henrique Cardoso e José Serra, é o de modernização atrelada ao que de mais avançado há no capitalismo em sua fase imperialista.

Para estes ideólogos da concepção de desenvolvimento como interdependência entre capitais, uma nação moderna é aquela conectada aos avanços técnico científicos promovidos pelos capitais protagonistas, independentemente da nacionalidade destes capitais.

As teses deste grupo são forjadas na seguinte concepção: existência de uma burguesia nacional conservadora que atrofia o pacto federalista para o desenvolvimento capitalista. Logo, necessita ser estimulada, movimentada, ou destruída pela concorrência com os grandes capitais investidores internacionais, sejam produtivos ou financeiros.

Para este grupo, a única forma de avançar no capitalismo imperialista, é permitir, via tomada do poder do Estado, um tipo de ação governamental que viabilize aquisições, fusões, privatizações, desestatizações, quebra de regulações e políticas macroeconômicas que impeçam a livre movimentação do capital (inter)nacional.

Para estes sujeitos a era global se caracteriza como a de livre mobilidade do capital que deve ser vista como uma oportunidade histórica para as economias retardatárias no processo de desenvolvimento capitalista.

2. A execução do poder

Na prática do poder, esta tese evidencia a relevância para o capital internacional de um Estado parceiro, aberto às coligações produtivas e infra-estruturais no processo de inovação tecnológica puxado pelas grandes corporações.

Com o aval do partido e de seus representantes eleitos, este capital moderno ocupa o que é do Estado e governa a sociedade e os territórios, pela constituição federal soberanos, a partir da busca pela valorização de seu negócio para além das fronteiras nacionais.

Este capital moderno, cujas sedes das principais empresas estão nos Estados Unidos, tem projetado nos últimos 40 anos para América Latina um novo momento de apropriação dos recursos naturais, energéticos e das riquezas criativas da população, no que podemos caracterizar a renovada fase das veias abertas da América Latina.

A meta principal é a apropriação privada dos americanos e seus pares, de tudo o que pertence ao Estado Nacional latino-americano e mundial, como guardião, republicano, dos interesses das sociedades que ocupam.

Estamos falando de um novo estágio da guerra, em que a leitura da correlação de forças no continente nos exige com urgência frear qualquer proposta de apropriação imediata do roubo dos territórios e vidas por parte dos capitais imperialistas hegemônicos, com a chancela do Estado nacional brasileiro.

Uma vitória de Serra representa um avanço sem precedentes no continente latino-americano daquilo que o PSDB, via sua adesão consensual a Washington, não conseguiu realizar por completo nos 10 anos de mando direto dentro do Governo Federal (oito de Fernando Henrique como Presidente e dois anos dele como Ministro do Governo Itamar).

A prévia eleitoral de uma possível vitória de Serra evidencia o aberto processo de conflitos, de guerra, criminalização dos movimentos e sujeitos, logo, a ampliação de um processo de perseguição e de construção no imaginário coletivo da sociedade brasileira sobre os criminosos, os crimes e o tipo de criminalidade.

Estamos falando da opção política concreta que os EUA esperam para assumir a ofensiva sobre o continente a partir da conquista do Estado brasileiro no próximo governo, assim como fazem com Chile, Colômbia e México, citando os governos coligados mais avançados nos pactos capitalistas imperialistas atuais.

3. As tarefas deste momento histórico

O que está em jogo não é a medida socialista ou capitalista da disputa e sim a forma como se vê a ampliação da soberania brasileira e o conteúdo de sua relação com o continente a partir dos dois projetos que se colocam em disputa.

No plano capitalista selvagem, não é possível a permissão representativa de que os tucanos subam a serra do poder legitimados socialmente por mais 4, para executar um processo claro de barbárie social.

Caso isto ocorra, a degradação do pouco que se conseguiu reconstruir no após queda do muro de Berlim no País será avassaladora para dentro e para fora das fronteiras nacionais. Mesmo que na aparência ocorram políticas sociais que ocultem a real entrega das riquezas de nossos territórios à Nação hegemônica.

São tempos difíceis. Tempos de um posicionamento que pode parecer contraditório mas que evidencia, na correlação de força deste momento, os pesos sobre a classe trabalhadora de uma opção reacionária para os próximos 4 anos.

São tempos que nos obrigam a estar nas ruas dialogando com nossos pares, os trabalhadores, ouvindo suas opiniões e tirando daí uma boa reflexão sobre os responsáveis pela formação de suas consciências na atualidade.

Isto é fundamental na construção da representatividade no poder, uma vez que a educação oral formaliza a estrutura do pensar protagonizada pela indústria cultural capitalista hegemônica no país, no continente e no mundo.

Nossa principal tarefa é debater com a parcela da sociedade que nos interessa, o que perderemos caso se consolide uma vitória reacionária tucana.

Para isto é importante que nossos materiais de agitação e propaganda e nossos instrumentos de diálogo com a sociedade estejam a serviço desta intencionalidade de classe. A edição especial do Brasil de fato e as cartas dos movimentos sociais do campo nos dão estes elementos.

A tarefa apenas começou. O mais importante vem depois, com uma vitória do PT. Aí o debate será de outra natureza: reivindicar, exigir, construir, cobrar um rumo diferente para a política de governo do Brasil. É verdadeiramente uma campanha com voto crítico que requer ser escutado agora, mas construído de fato depois das eleições.

A tarefa maior está para além do poder institucional a ser tensionado: teremos que retomar abertamente a reconstrução da unidade da esquerda, com o objetivo de construirmos e disputarmos o poder com base em um projeto popular, que realmente nos represente como trabalhadores brasileiros e latino-americanos.

Olhares sobre as eleições - parte XXII

Olha, estou de saco cheio do machismo do José Serra! As falas carregadas de viés de gênero, preconceituosas e que tratam a mulher como objeto me deixam indignadíssima! Não bastasse ter declarado num culto evangélico seu não-apoio à votação da lei contra a homofobia, agora mais uma das suas me deixa perplexa: num gesto convulsivo de quem já vai dar os últimos suspiros, ele pede "às moças bonitas que consigam votos junto a seus pretendentes"... Ah, Serra, nota-se o seu desespero diante da chegada do dia 31. E fica claro que em busca de alimentar a sua vaidade e seu desejo por poder, ele usa qualquer argumento, não se preocupando com a opinião pública a seu respeito: e o que acontece? Perde mais votos! Sujeitinho detestável...

Veja a matéria sobre o fato:

Mulheres reagem a pedido de Serra para convencer pretendentes

28/10/2010 21:04, Por Redação, do Rio de Janeiro

Serra realizará caminhada na Zona Sul do Rio, neste domingo

Serra falou a uma plateia em Minas

O candidato tucano, José Serra, gerou uma nova onda de protestos na internet, no início da noite desta quinta-feira, por parte das mulheres que se sentiram ofendidas com o pedido do candidato, feito no encerramento do discurso em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para uma plateia de cabos eleitorais e convidados. Ele apelou para que para as “meninas bonitas” busquem convencer os seus pretendentes masculinos a votar nele, principalmente na internet.

– Quero me concentrar agora no que vamos fazer até domingo. Temos que não apenas votar, temos que ganhar voto de quem está indeciso, voto de quem não está ainda muito decidido do outro lado – argumentou o candidato.

Segundo o candidato tucano, mulheres bonitas têm mais condições de cabalar votos para a aliança da direita.

– Se é menina bonita, tem que ganhar 15 (votos). É muito simples: faz a lista de pretendentes e manda e-mail dizendo que vai ter mais chance quem votar no 45 – completou.

A proposta caiu mal para as mulheres brasileiras que, no Twitter, alçaram o primeiro lugar nos trends (assuntos mais debatidos nas redes sociais) nacionais e terceiro lugar, em nível mundial, com as mensagens de protesto contra o candidato.

“Sou mineira e bonita, mas não tenho tenho vocação pra trabalho de bordel”, escreveu @fiz_mesmo, seguida de @velvetinha: “Credo, o Serra é antigo, que ideia mais triste, gente. Ele imagina as meninas coqueteando para ganhar votos. Perai, vou ali vomitar”.

Os protestos foram rastreados pela tag #serracafetao, que chegou ao terceiro lugar em nível mundial, no início da noite. O internauta @emrsn ponderou que “por muito menos o Ciro foi mega desacreditado pela imprensa”, e @purafor pergunta se esta seria uma proposta do candidato para se criar “um bordel a nível nacional”. Enquanto isso, @rodrigonc, que não deve passar dos 14 anos, aproveita para entrar na discussão, “só avisando às meninas bonitas do Twitter: podem me mandar DM (mensagem direta, na tradução do inglês) que a gente já pode negociar esse voto”.

O internauta @luisfelipesilva acirra o debate ao constatar que “não tem profissão mais ingrata do que ser marketeiro do Serra, haja gafe…”, mas coube à internauta @alessandra_st colocar o tom do protesto: “Serra desvaloriza a mulher e subestima eleitorado feminino em MG”, concluiu.



Peraí, vou ali vomitar.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Olhares sobre as eleições - parte XXI



Sem medo de ser feliz, é com Dilma que eu vou! E você?

Olhares sobre as eleições - parte XX

Dilma se mantém à frente de Serra até em pesquisa encomendada por tucanos

26/10/2010 22:08, Por Redação, do Rio de Janeiro e São Paulo

O Datafolha mantém o quadro inalterado há uma semana

O Datafolha mantém o quadro inalterado há uma semana

Enquanto a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, mantém a vantagem, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira, para o adversário tucano, José Serra, este lança mão de estudo pago ao Instituto GPP, ao custo de R$ 160 mil, para apontar uma distância menor entre um e outro. De acordo com o levantamento do Datafolha, a petista assegura 56% dos votos válidos (que excluem brancos, nulos e indecisos) contra 44% de José Serra (PSDB). Os números em votos válidos são os mesmos registrados na pesquisa anterior, realizada no dia 21.

Já no total de intenções de voto, a oscilação foi pequena. Dilma passou de 50% a 49% e Serra foi de 40% a 38%. 5% afirmaram que pretendem votar em branco ou nulo, enquanto 8% dizem estar indecisos. No Sudeste, Serra caiu três pontos percentuais, a maior parte deles em Minas Gerais, e registra 40%, contra 44% de Dilma. No Sul, ele ainda lidera, por apenas três pontos, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. No Nordeste, a diferença continua em 64% a 27%.

A pesquisa foi realizada no dia 26 de outubro com 4066 eleitores em 246 municípios em todos os Estados do País e está registrada no TSE sob o protocolo 37404/2010. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pelo diário conservador paulistano Folha de S.Paulo.

Pesquisa encomendada

Diante da debandada de aliados, que se acentuou nesta terça-feira com o abandono de um grupo de prefeitos baianos que, impressionados com pesquisas que apontam vitória de Dilma, começaram a se desvincular de Serra, o candidato tucano recebeu do governador eleito do Paraná, Beto Richa, a dica para divulgar uma pesquisa de opinião que fosse mais simpática à causa da direita. A campanha de Richa, no primeiro turno, obteve uma série de liminares, na Justiça, para censurar sucessivas pesquisas que mostravam o avanço do adversário de Richa, Osmar Dias (PDT).

Richa, em conversa com Serra, chegou a considerar a hipótese de tentar segurar, no Tribunal Superior Eleitoral, a divulgação de pesquisas na reta final da eleição para o segundo turno, mas o adversário de Dilma pensou duas vezes e descartou o viés judicialista. Surgiu, então, a ideia de buscar números mais favoráveis ao tucano. Para isso, a oposição recorreu ao desconhecido instituto GPP, fundado em 1991, e que atua preferencialmente no ramo de pesquisas empresariais, ligado ao ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM).

Para que pudesse ser divulgada, a pesquisa do GPP precisou ser registrada na Justiça Eleitoral até para, no futuro, servir de prova em um possível processo contra o PSDB, que setores da campanha petista já consideram viável, por tentativa de condução do eleitorado a erro. O registro foi feito em nome do próprio candidadto a vice na chapa de Serra, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), de quem foi a sugestão para divulgar uma pesquisa interna, realizada entre os dias 23 e 25 deste mês. Segundo o levantamento, contando apenas os votos válidos, Dilma Rousseff (PT) teria 53,1% contra 46,8% de José Serra (PSDB). A margem de erro é de 1,8 ponto para mais ou para menos. A pesquisa foi protocolada no TSE com o número 37219/2010.