
Como nascem as paixões? Elas nascem da falta. Porque eu me falto a mim mesma. Retomo O Banquete, a fúria dos deuses caída sobre os seres andróginos. Essa falta que vai doer para sempre. E me parece que o reencontro com a minha metade ausente de mim apenas me dará a ilusão de que deixei de ser um ser descontínuo e só. Bataille me ensina difíceis lições.
Para a Psicanálise, há uma dicotomia entre paixão e amor. A paixão se nutre da enfermidade, precisa da dor, de um nível de excitação mental e emocional que me tiram de mim, ao invés de devolver-me. A obsessão pelo outro é um mergulhar cego e desvairado. Não preciso ouvi-lo, nem saber o que ele sente e pensa. Basta-me que ele me receba, que me abra suas portas e janelas. A paixão não quer dar, só lhe interessa receber. Já o amor é generoso. Ele se nutre da interação, do saber ouvir e do receber e dar, dosados.
A paixão se nutre do estado obsessivo de buscar o outro, mas não pelo que o outro pode trocar comigo, senão pelo que a minha ferida narcísica precisa, dentro do meu egocentrismo. A paixão é narcisista. Vejo a mim mesma refletida no outro. Não interessa quem o outro é. Não me interesso por ele verdadeiramente. Quero falar, falar, ser vista, ser desejada, ser sonhada; não enxergo o outro na sua essência. Vejo a mim quando busco seus olhos, só a mim.
O amor... Haverei experimentado tal sentimento? Aceitar o outro como ele de fato é?
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