quarta-feira, setembro 20, 2006

Odisséia


Sou a tua Penélope: teço e desfio a colcha diariamente. Volto a tecê-la durante o dia para, mais uma vez, desfiá-la à noite. Os dois – tu e eu – um dia se cansarão, seguramente, da espera pela comunhão. E então, Ulisses, juntarás teus homens e voltarás para, de novo, colonizar meu coração, que vai, devagarzinho, se consumindo entre teares e espera e desejo. Recuso outros amores. Os que me cortejam, suicidam-se de noite, enquanto todos dormem, diante do meu fechar-se a eles e a seu fogo. Ontem, um deles vigiava a minha janela; pude vê-lo, rosto cansado, esperando que eu apagasse a luz. Não sabem que meus pensamentos são teus, lá distante, onde quer que teus pés andem. Não sabem que por ti canta o meu tear, onde brotam as cores e os bordados, na colcha. E não duvidam – porque nem mesmo o suspeitam, sequer o suspeitam – que a colcha cobrirá a noite que cairá sobre nossos corpos amantes. Regressa, Ulisses, porque meus dedos já estão um pouco cansados, amado da minha alma...

Tua sempre,

Penélope.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo...
Ulisses

Fabiana Amorim disse...

Lindo é você...
:*
Penélope

Anônimo disse...

Essa Odisséia tem que dar certo!

Quem escreve tão lindamente que até a Homero encantaria, merece todo o Amor do mundo!