sábado, janeiro 21, 2012

Saturno devorando seus filhos. Rubens, 1636.

Não foi por casualidade que os gregos criaram o mito de Cronos devorando seus próprios filhos. O tempo, ah, o tempo!... A verdade é que me sinto muito pouco efetiva diante dos relógios. Já levo 35 anos tentando me equilibrar nessa corda bamba, e, vez ou outra, me esborracho feio do alto da corda diretinho no chão. Uma dorzinha fica num músculo ou num osso, levo dias no remorso de que poderia ter feito melhor, ter dado mais de mim, mas de novo me esborracho, não demora. Por isso faço listas, listas intermináveis, são a vã tentativa de controlar os ponteiros, de domar esse relógio que me governa. Inconscientemente, resisto ao jugo de Cronos, prefiro práticas gregas antigas como o ócio criativo, momento em que dou o melhor da minha energia, e de onde saem minhas melhores ideias... O mundo é tão grande, as coisas boas por viver são tantas, e o dia passa rápido, o dia voa, me atropela, e não consigo fazer tudo de que tenho vontade, sofro, meninos, sofro. E já se foram 35 anos, não fiz nada, resta-me um consolo ao qual aferrar-me: existem outras vidas depois desta.

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