Encontrei uns versinhos que escrevi em '98:
Meu desejo é um grande cavalo
branco e selvagem
preso em vinte e quatro metros quadrados
de pura solidão.
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Quero dar seqüência ao trabalho de lapidação do Movimento por uma casa com quintal. Eu explico: a lapidação fica por conta do acostumar-me com a idéia da mudança. Hoje cedo encontrei uma agenda com anotações e preparativos para a última mudança que fiz, em novembro de 2000, quando me mudei para o apartamento onde moro hoje. Vi a lista de móveis e pertences (tão pequena!), e tudo coube em um caminhaozinho tipo kombi. Aos poucos fui mobiliando o apê, comprei cama, mesa, fogão, geladeira, lavadora, sofá, estantes, armários, tudo que há quase. A minha mudança de hoje sairia num caminhão baú, com tudo impecavelmente acondicionado em caixas de papelão, embrulhado em jornal e plástico bolha, com etiquetas e listas de onde-está-isto-ou-aquilo. Pensando nisso até senti o gosto de mudança na boca. Eu estou me preparando emocionalmente para sair daqui. Não tenho certeza se terei a felicidade de conseguir uma casa com quintal, mas é o que eu gostaria de ter. Como sei que o primeiro passo é sonhar, eu vou continuar sonhando, e com força.
Quando volto de uma viagem mais longa, fico alguns dias até conseguir me apropriar outra vez da minha casa e das minhas coisas. É como a relação com crianças: elas ficam de longe espiando, depois se aproximam devagarzinho, e então puxam conversa, fazem uma perguntinha qualquer, e depois ficam amigas. De infância, claro. Com a casa, estou me reapropriando devagarzinho, mais uma vez, com o gosto de que seja talvez a última nesse exercício de tê-la minha. Acho que o que importa agora é tentar ser feliz aqui com o tempo que me resta.
Fiquei pensando naquela paradinha de que vivemos sucessivos ciclos de sete anos durante a Vida. Talvez o meu ciclo com esse apê tenha se findado. E como não posso ressignificá-lo, é melhor tentar buscar outro espaço. O que me dá tristeza é o fato de eu ter emprestado minha alma a esse lugar. Mas sei que outra lição imprescindível é exercitar o desapego material: um dia tudo se perde, tudo se esvai, tudo se desmancha no ar. E terei que emprestar minha alma a outro lugar, aqui ou alhures.
Me dá comichão pensar em desmontar tudo, tudo, para sair por aquela porta e ir habitar outro espaço. Penso na minha coleção de revistas de decoração (mais de 200, em vários idiomas), penso na louça, nos livros, na roupa, nos móveis, até na minha escada de metal eu penso. E me dá a sensação de que posso pertencer a qualquer lugar, que só preciso continuar colocando meu coração nas coisas.
Ainda não sei quando se daria o grande dia da mudança, mas comecei a construi-lo com meu desejo há algum tempo já. Sigamos em frente.
Quando volto de uma viagem mais longa, fico alguns dias até conseguir me apropriar outra vez da minha casa e das minhas coisas. É como a relação com crianças: elas ficam de longe espiando, depois se aproximam devagarzinho, e então puxam conversa, fazem uma perguntinha qualquer, e depois ficam amigas. De infância, claro. Com a casa, estou me reapropriando devagarzinho, mais uma vez, com o gosto de que seja talvez a última nesse exercício de tê-la minha. Acho que o que importa agora é tentar ser feliz aqui com o tempo que me resta.
Fiquei pensando naquela paradinha de que vivemos sucessivos ciclos de sete anos durante a Vida. Talvez o meu ciclo com esse apê tenha se findado. E como não posso ressignificá-lo, é melhor tentar buscar outro espaço. O que me dá tristeza é o fato de eu ter emprestado minha alma a esse lugar. Mas sei que outra lição imprescindível é exercitar o desapego material: um dia tudo se perde, tudo se esvai, tudo se desmancha no ar. E terei que emprestar minha alma a outro lugar, aqui ou alhures.
Me dá comichão pensar em desmontar tudo, tudo, para sair por aquela porta e ir habitar outro espaço. Penso na minha coleção de revistas de decoração (mais de 200, em vários idiomas), penso na louça, nos livros, na roupa, nos móveis, até na minha escada de metal eu penso. E me dá a sensação de que posso pertencer a qualquer lugar, que só preciso continuar colocando meu coração nas coisas.
Ainda não sei quando se daria o grande dia da mudança, mas comecei a construi-lo com meu desejo há algum tempo já. Sigamos em frente.
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