
Ontem vi Pecados íntimos (Little Children, EUA, 2006). Maravilhoso. Náo esperava muito do filme, mas me surpreendeu pelo conjunto da ópera. A atuaçáo de Kate Winslet náo é a melhor (apesar de ser muito boa), ganha meu prêmio o Jackie Earle Haley, uma atuaçáo primorosa... O filme é muito bem construído, conta com um roteiro bacana e uma fotografia linda. O título original (Little children) faz muito sentido quando saímos do cinema: fala das crianças em nós, além de todas as referências a crianças (os pais que as cuidam, os playgrounds invadidos por pedófilos, as crianças brutalmente assassinadas em centros comerciais...), mais especificamente faz referência às crianças norte-americanas, vítimas das próprias armas criadas por esse país, dos psicopatas lentamente gestados numa sociedade que adoece por sua própria conta. As crianças que os personagens foram um dia sáo sempre enfocadas, a criança que perde o pai na guerra do Iraque, o (s) menino(s) que perde(m) a máe e é (sáo) obrigado(s) a crescer, os adultos que, por alguns momentos de distraçáo e fuga da realidade, agem como crianças (inconseqüentes?). Vemos uma sociedade extremamente preocupada com seus filhos (??), sustentadora de um discurso moralista e preconceituoso sobre aquilo que náo consegue entender e controlar.

A construçáo da personagem Sarah (Kate Winslet) me encantou. Trata-se de uma Emma Bovary de subúrbio norte-americano: profundamente infeliz com o casamento, ela se lança em direçáo aos encantos do bonitáo Brad (Patrick Wilson), em quem deposita todas as esperanças de ser feliz. As semelhanças com a Emma de Flaubert sáo enormes: o marido de Sarah também herda uma linda casa, o casamento é uma farsa mantida diante da sociedade, ela é a perfeita histérica que espera que o outro a ame, que Brad seja a soluçáo dos seus conflitos existenciais e a salve do casamento fracassado e insosso. Mas o que me impressionou é que a histeria náo pertence unicamente a Sarah. Se pensamos um pouco em Brad vemos que ele também encontra em Sarah eco para seus sonhos, ela é a fuga dos seus conflitos - náo ser aprovado no exame da ordem dos advogados, náo conseguir exercer o tradicional papel masculino de provedor da família, papel táo cultuado na sociedade norte-americana -. Sarah representa para ele o hiato entre seus problemas e o mundo real, ela também é o momento de fuga da (sua) realidade (a esposa que sustenta a família, o filho que ele precisa cuidar.) Só no momento do sono dos pequenos Sarah e Brad se encontram: é o momento idílico do amor - a tarde, quando o calor pode justificar as loucuras cometidas, quando náo há olhares que os reprovem -.

É um filme que fala de família(s), de afeto, de formas de amor, de encontrar o outro como ele realmente é. É um filme que fala de humanidade, de sentimentos humanos. Que náo existe perfeiçáo, que os ideais românticos de casamento, família, amor sáo apenas ideais. Nisso reside o lado duro, mas bonito, da história. E que, apesar de todas as falhas, somos humanos. E que há beleza nisso. É um filme sobre perder e ganhar. E que quando perdemos, há algo de proveitoso nisso. Algo de encontro com nós mesmos.
***************************************************
Poderia escrever um longo ensaio sobre o filme, com outras coisas sobre as quais ele me faz pensar, me faz refletir. Talvez eu o faça depois. Recomendo o site oficial do filme, está muito bem feito, é muito bonito. O filme me tocou de muitas maneiras. Parabéns a Todd Field...
***************************************************
O dia 08 de março foi um dia pesado. O motivo? A chegada de Bush à nossa pátria verde-amarela. Argh, blerh. O trânsito se tornou o caos em BH, havia manifestaçóes na Praça Sete, e lamentei náo juntar-me a ela por causa do meu horário de trabalho. Fiquei com nojo de ler os jornais, a cobertura que se fez desse fato foi ostensiva. E aproveito para saudar a Sáo Paulo Fashion Week pela visáo crítica com que apontou o tal "evento" político. Para os que ligam Moda a frivolidade eis um bom exemplo de "cala-boca", ou pelo menos de rever os seus "pré-conceitos"... Sim, vejam isso.
***************************************************
Um dia eu ainda vou ser paga para escrever. Vou acordar cada manhá, tomar meu desjejum e sentar-me diante do meu notebook e escrever umas paginazinhas adoráveis... Se alguém aí souber de uma vaga de crítica de cinema, por favor, me avise!
***************************************************
Um feliz sábado a todos e todas.

A construçáo da personagem Sarah (Kate Winslet) me encantou. Trata-se de uma Emma Bovary de subúrbio norte-americano: profundamente infeliz com o casamento, ela se lança em direçáo aos encantos do bonitáo Brad (Patrick Wilson), em quem deposita todas as esperanças de ser feliz. As semelhanças com a Emma de Flaubert sáo enormes: o marido de Sarah também herda uma linda casa, o casamento é uma farsa mantida diante da sociedade, ela é a perfeita histérica que espera que o outro a ame, que Brad seja a soluçáo dos seus conflitos existenciais e a salve do casamento fracassado e insosso. Mas o que me impressionou é que a histeria náo pertence unicamente a Sarah. Se pensamos um pouco em Brad vemos que ele também encontra em Sarah eco para seus sonhos, ela é a fuga dos seus conflitos - náo ser aprovado no exame da ordem dos advogados, náo conseguir exercer o tradicional papel masculino de provedor da família, papel táo cultuado na sociedade norte-americana -. Sarah representa para ele o hiato entre seus problemas e o mundo real, ela também é o momento de fuga da (sua) realidade (a esposa que sustenta a família, o filho que ele precisa cuidar.) Só no momento do sono dos pequenos Sarah e Brad se encontram: é o momento idílico do amor - a tarde, quando o calor pode justificar as loucuras cometidas, quando náo há olhares que os reprovem -.

É um filme que fala de família(s), de afeto, de formas de amor, de encontrar o outro como ele realmente é. É um filme que fala de humanidade, de sentimentos humanos. Que náo existe perfeiçáo, que os ideais românticos de casamento, família, amor sáo apenas ideais. Nisso reside o lado duro, mas bonito, da história. E que, apesar de todas as falhas, somos humanos. E que há beleza nisso. É um filme sobre perder e ganhar. E que quando perdemos, há algo de proveitoso nisso. Algo de encontro com nós mesmos.
***************************************************
Poderia escrever um longo ensaio sobre o filme, com outras coisas sobre as quais ele me faz pensar, me faz refletir. Talvez eu o faça depois. Recomendo o site oficial do filme, está muito bem feito, é muito bonito. O filme me tocou de muitas maneiras. Parabéns a Todd Field...
***************************************************
O dia 08 de março foi um dia pesado. O motivo? A chegada de Bush à nossa pátria verde-amarela. Argh, blerh. O trânsito se tornou o caos em BH, havia manifestaçóes na Praça Sete, e lamentei náo juntar-me a ela por causa do meu horário de trabalho. Fiquei com nojo de ler os jornais, a cobertura que se fez desse fato foi ostensiva. E aproveito para saudar a Sáo Paulo Fashion Week pela visáo crítica com que apontou o tal "evento" político. Para os que ligam Moda a frivolidade eis um bom exemplo de "cala-boca", ou pelo menos de rever os seus "pré-conceitos"... Sim, vejam isso.
***************************************************
Um dia eu ainda vou ser paga para escrever. Vou acordar cada manhá, tomar meu desjejum e sentar-me diante do meu notebook e escrever umas paginazinhas adoráveis... Se alguém aí souber de uma vaga de crítica de cinema, por favor, me avise!
***************************************************
Um feliz sábado a todos e todas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário