sábado, setembro 30, 2006

Ter asas

Anjo. Van Gogh

Todos iam a alguma parte, tinham planos para o depois. Ninguém estava pronto para ir embora, aliás, alguns haviam acabado de chegar ali. Quando se vai a uma festa, o que se quer é estar na festa. Ouvi dizer que um rapaz estava lá porque queria fazer uma surpresa para a namorada, iria pedi-la em casamento. Penso que se fosse comigo, ia doer muito, muito, muitíssimo. Doeria em qualquer um mesmo. Muitos estavam a trabalho, talvez alguns de férias. Todos estavam em movimento. Ninguém imaginava que aconteceria dessa maneira. Só mais uma vez, uma das muitas vezes, para muitos, talvez para a maioria. Havia os que tinham medo de estar ali, sem dúvida. Os que preferiam sentar-se na janela, e viram quando tudo ficou desgovernado e o chão começou a se aproximar. Alguém terá tido tempo pra rezar? De dizer "Deus!", ou "Mãe!"? Sim, porque nessas horas refaz-se, misteriosamente, o cordão umbilical, e engatinha-se. As tragédias irmanam a humanidade inteira. Não há quem não fique doendo - um pouco que seja - com a dor alheia.

Ninguém ali estava pronto. Ninguém imaginou que seria assim. Uma lástima. Rezo por todos que estavam lá. Que descansem em paz. Amém.



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