sexta-feira, setembro 29, 2006

Printemps


É primavera... nem fui capaz de mencionar esse fato nas últimas postagens, que distraída!... Feliz primavera, tripulantes dessa torre de capim lilás! Adoro a primavera, apesar da minha rinite reclamar um pouco... rs. Estamos às vésperas das eleições. Nunca vivi uma eleição tão estranha. Sou apaixonada por Política desde os treze anos de idade, é uma insanidade isso, eu sei. Na adolescência, militei apaixonadamente. Conversando com um amigo há alguns meses, chegamos à conclusão de que vivemos mais a militância política que as vivências "normais" da adolescência e lamentamos, juntos, não termos, por exemplo, nos entregado a outras paixões, não termos namorado as pessoas que valiam a pena naquele momento, lamentamos o fato de termos namorado pouco naquela época! Mas deixe estar. Inês é mortinha da Silva agora. O que quero é falar de umas coisas que têm me sufocado. Os meus amigos sabem que estou afastada das atividades políticas do partido comunista há uns nove anos. É muito tempo, é muito chão. Dá saudade. Mas as coisas são como têm que ser, paciência. Continuo acreditando no partido, na sua ideologia, nas pessoas com quem militei. E tenho carinho e afeição por tudo isso, mesmo não estando mais lá, na "ativa". E me incomoda que muitas pessoas que me são caras estejam sem acreditar. Muitos dos meus amigos estão céticos. Não querem se entregar a sonhos, a "utopias", a não-lugares... Mas existe um não-lugar? Meu pragmatismo (que, acho, tenho muito, sim, senhor...) me diz que em se tratando de Política sempre há lugares, mesmo que ainda estejam por inventar. O que eu não quero nunca é deixar de acreditar. Nem de ter sonhos. Não vou deixar que me tirem os que me sobram. São preciosos demais para que eu os dê, assim, como quem distribui roupas usadas... Estou triste por causa do ceticismo que vejo em muitas falas, as vozes cansadas de quem já até sonhou junto comigo... E queria puxar esse povo pela mão e dizer "vem, ainda há um horizonte... vamos conquistar outros lugares...". Mas dessa vez eu me sinto sem forças. Acredito que dentro de mim há força, mas não consigo externalizá-la. Não consigo fazer brotar a alegria de outrora. Acho que agora é o momento de ficar mais em silêncio, de fazer avaliações. Lamento que as coisas tenham chegado a esse ponto pra mim. Mas gosto de ser absolutamente sincera. Não me importa se vão me julgar mal, se vão usar minhas palavras contra mim. Essa eleição está estranha, estranhíssima. Há uma energia diferente no ar, estamos em suspenso. Sinto as coisas assim. Acredito que nenhum governo fez o que Lula fez - e espero possa continuar fazendo por mais quatro anos... -, acho mesmo que a auto-estima do brasileiro melhorou muito, nunca vi esse povo tão acreditando que pode ser. Essa crença é o primeiro passo para ser de fato. E isso é uma conquista coletiva. Quem nunca passou fome não sabe o que é ter uma bolsa família, uma bolsa escola, eu não sei, você seguramente também não sabe. Seria muito bom se todos pudessem, a despeito de todas as críticas que devem e precisam ser feitas, avaliar todas as mudanças que esse país sofreu para melhor, incluídas aí as novas posturas ao se investigar concretamente a corrupção (que desembarcou por aqui das naus portuguesas há mais de 500 anos...). Amadurecer políticamente é um processo lento e sei que estamos no caminho certo. Fico muito feliz quando vejo pessoas que não tiveram acesso a educação formal posicionando-se sobre política, estamos construindo, devagarzinho, um processo de cidadania. Sei que é triste falar de cidadania quando há projetos que esbarram no assitencialismo mais frágil, mas acredito que ninguém sustenta a vara de pescar entre as mãos se tem fome. Vamos dar o peixe, sim, para que venha a força para segurar a vara de pescar. E depois teremos muito mais trabalho ainda, é preciso que as pessoas criem muitas outras consciências, mas a cidadã é a primeira delas. E terá valido a pena acreditar. Saudações, amigos. Beijo no coração de todos.

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