quarta-feira, setembro 27, 2006

Sem título. Paul Resika, 1969.


Vocábulos

Para E.S., porque ele existe.

Minhas palavras te alcançam

antes que meus dedos o façam:

elas te acariciam

te mordem

te lambem a pele lentamente.


Minhas palavras se deitam com as tuas

Nas noites que lá fora são frias

E dentro de nós, lava de Vesúvio.


Minhas palavras te desnudam

o belo corpo de homem

e bailam sobre teus pelos

e descobrem lugares secretos de tua pele.


Minhas palavras fazem amor com as tuas palavras:

Misturam-se, gemem, deliram.

Os corpos das palavras mergulham

umnooutronoumnooutro

entrelaçam-se os dedos

respiram os cheiros

beijam com cada poro.


Minhas palavras entregam-se, inteiras, às tuas.

Dizem: “toma-me com teus vocábulos”

“Ama-me com tuas interjeições de desejo”.


Meu corpo inteiro quer ser tomado pelo teu corpo:

Tuas palavras já navegaram até as minhas

E invadiram o solo, a água, minha flora.


Que venha tua boca

Teus dedos

Teu desejo.


Que nosso encontro seja também no silêncio,

lugar onde se ouve e tudo se entende

mesmo sem dizer palavra.


Ou que seja uma:

Intensidade.

E outra:

Amor.

Nenhum comentário: