
Vive-se uma nova "era amorosa". Os amores não conhecem mais as fronteiras geográficas; falo daquelas mesmo - as fronteiras geo-políticas -, traçadas, a custo de guerras e tratados diplomáticos, nos mapas e atlas. Há muito que não se teme o oceano, as longas estradas ou as montanhas, os rios e as cordilheiras. Simplesmente ama-se. Apaixona-se e a tecnologia que cumpra o seu papel, permitindo que a história de amor vá em frente. Mas nem sempre foi assim.
*******************************************
Lembro-me que, aos dezesseis anos, apaixonei-me pelo primo de uma amiga, o Emerson Yamada. Foi amor à primeira vista: gaguejávamos quando nos víamos, ficávamos ruborizados um diante do outro. Foi recíproco, acho que nem preciso comentar esse detalhe. Ele estava de férias na minha cidade, ficaria por alguns dias ali. Intermediados por alguns cupidos - éramos infinitamente tímidos e, como já comentei, gaguejávamos -, nós (já apaixonados) começamos a namorar. Ele tinha 19 anos e um pequeno detalhe geográfico: morava no Japão, a doze horas de diferença do Brasil. Confesso que, naquela época, eu nem fazia idéia da distância real que nos separava: um ou dois oceanos, fusos horários, um idioma com três alfabetos e as férias anuais, que deveriam ser sonhadas, esperadas ansiosamente.
Naquela época - catorze anos atrás -, a comunicação se fazia através da Embratel e da ECT, somente isso. Ele me ligava no sábado à noite, e lá em Nagano-Ken já era domingo pela manhã. Não havia internet como hoje (só começaria alguns anos mais tarde), e todo mundo sonhava com um telefone que mostrasse o rosto do interlocutor. Basicamente era isso: sonhar com a carta que chegaria, com uma chamada telefônica aos sábados à noite, com as próximas férias. E se fosse hoje?...
Foi uma das histórias mais bonitas que vivi na minha adolescência, principalmente porque nos valíamos de toda a nossa criatividade para presentificar o outro e torná-lo menos ausente. O Amor cria seus mecanismos de existência. Foi tão intenso o que vivemos que depois de voltar ao Japão, passados dois meses, ele conseguiu uma folga no trabalho e voltou para me visitar. Era fim de janeiro, começo de fevereiro de 1993. Nossa história não durou muito tempo, apesar de ele haver-me pedido em casamento. Casar aos dezesseis anos? Era ficção aos meus ouvidos. Ainda tinha que fazer uma faculdade, construir uma carreira, era muito cedo para pensar nisso, para viver isso. Nós nos separamos, mas ficou durante muito tempo uma pontinha de tristeza pelo que não foi. Até que soube que ele havia se casado, e decidi tirá-lo da minha vida.
***********************************************
Voltamos ao século XXI. Comunicação via satélite, via fibra ótica. Também "fibras cardíacas". É de se esperar que o Amor, como tudo, acompanhe os avanços tecnológicos. A internet possibilitou que o Amor se avizinhe, mesmo estando longe. Possibilita que as histórias que nasceriam fadadas ao absoluto fracasso décadas atrás vinguem. O Amor se metamorfoseia. Ganha ares "cyber", e é transmitido via satélite de um pedaço a outro do mapa. Ganha pernas ligeiras e se locomove entre países, regiões, cidades. O Amor ficou do tamanho do mundo. E nunca foi tão cosmopolita. Se já não fazia distinções - afinal, como fruto da união de Poros e Penia, sabe perfeitamente assumir as diferenças -, eis o momento de experimentar o "estar no lugar do outro para amá-lo por inteiro".
É fantástico ver que muitas histórias de amor têm nascido nos novos espaços de encontro e comunicação. Se eu vivesse no século XIV, seria estranho que tentassem me explicar um "amor virtual". Falta o quê a esse Amor: corpo? respiração? olhos? mente? alma? "Mas está tudo ali", dirão os apaixonados virtuais; "posso ver, quase tocar". A internet ainda não tem cheiro, nem paladar, nem tato. Mas a visão e a audição já foram convocadas para a missão muito especial do enamoramento. Aguçam-se os sentidos, adivinha-se o cheiro da pele, o calor das mãos e o sabor do beijo. O Amor contemporâneo reinventou o erotismo, criou o erotismo cibernético.
A ausência física do objeto do amor versus a sua presença através de câmeras e microfones (imagem do corpo e recepção da voz, respectivamente) intensificam a relação erótico-amorosa, já que o erotismo se forma a partir da dicotomia ausência/presença, e dos espaços ora em branco ora preenchidos pelos sentimentos. Mas não estou aqui para fazer um estudo acadêmico do erotismo na internet, ainda que eu me sinta tentada a isso, seja por gosto pelo tema, seja pelo "costume do cachimbo". Interessa-me o que anda-se sentindo por aí graças à rede mundial de computadores.
Incluo-me nessa nova forma de sentir. Vejo que as possibilidades de amar nesse século são mais intensas que anteriormente. Imagino as cartas viajando a cavalo de uma aldeia a outra séculos atrás. Atualmente, as cartas cruzando os mares de um continente a outro, em navios ou mesmo em aviões. Os telefonemas, tendo que ser cronometrados para que não custassem tão caro. Quem nunca viveu um amor assim?
Hoje em dia algumas coisas já fazem parte do cotidiano de muita gente: quando alguém se apaixona, o celular se transforma em artigo de primeira necessidade. Ou seguramente você, ou alguém próximo a você, conheceu algum grande amor na internet. Criou-se o conceito "relacionamentos virtuais", e que quase sempre ganham o status de "reais" com o passar do tempo. Mandam-se beijos, flores e cartões virtuais às pessoas amadas.
O Amor ganhou cara nova, jeito novo, bem "moderninho". Contudo, ninguém precisa teorizar sobre "a inserção do Amor no contexto da globalização e da era da imagem" para poder senti-lo. O Amor continua sendo o Amor, não importa a era. Sente-se. Vive-se intensamente cada gota. Amor é Amor. E ponto continuativo.
*******************************************
Lembro-me que, aos dezesseis anos, apaixonei-me pelo primo de uma amiga, o Emerson Yamada. Foi amor à primeira vista: gaguejávamos quando nos víamos, ficávamos ruborizados um diante do outro. Foi recíproco, acho que nem preciso comentar esse detalhe. Ele estava de férias na minha cidade, ficaria por alguns dias ali. Intermediados por alguns cupidos - éramos infinitamente tímidos e, como já comentei, gaguejávamos -, nós (já apaixonados) começamos a namorar. Ele tinha 19 anos e um pequeno detalhe geográfico: morava no Japão, a doze horas de diferença do Brasil. Confesso que, naquela época, eu nem fazia idéia da distância real que nos separava: um ou dois oceanos, fusos horários, um idioma com três alfabetos e as férias anuais, que deveriam ser sonhadas, esperadas ansiosamente.
Naquela época - catorze anos atrás -, a comunicação se fazia através da Embratel e da ECT, somente isso. Ele me ligava no sábado à noite, e lá em Nagano-Ken já era domingo pela manhã. Não havia internet como hoje (só começaria alguns anos mais tarde), e todo mundo sonhava com um telefone que mostrasse o rosto do interlocutor. Basicamente era isso: sonhar com a carta que chegaria, com uma chamada telefônica aos sábados à noite, com as próximas férias. E se fosse hoje?...
Foi uma das histórias mais bonitas que vivi na minha adolescência, principalmente porque nos valíamos de toda a nossa criatividade para presentificar o outro e torná-lo menos ausente. O Amor cria seus mecanismos de existência. Foi tão intenso o que vivemos que depois de voltar ao Japão, passados dois meses, ele conseguiu uma folga no trabalho e voltou para me visitar. Era fim de janeiro, começo de fevereiro de 1993. Nossa história não durou muito tempo, apesar de ele haver-me pedido em casamento. Casar aos dezesseis anos? Era ficção aos meus ouvidos. Ainda tinha que fazer uma faculdade, construir uma carreira, era muito cedo para pensar nisso, para viver isso. Nós nos separamos, mas ficou durante muito tempo uma pontinha de tristeza pelo que não foi. Até que soube que ele havia se casado, e decidi tirá-lo da minha vida.
***********************************************
Voltamos ao século XXI. Comunicação via satélite, via fibra ótica. Também "fibras cardíacas". É de se esperar que o Amor, como tudo, acompanhe os avanços tecnológicos. A internet possibilitou que o Amor se avizinhe, mesmo estando longe. Possibilita que as histórias que nasceriam fadadas ao absoluto fracasso décadas atrás vinguem. O Amor se metamorfoseia. Ganha ares "cyber", e é transmitido via satélite de um pedaço a outro do mapa. Ganha pernas ligeiras e se locomove entre países, regiões, cidades. O Amor ficou do tamanho do mundo. E nunca foi tão cosmopolita. Se já não fazia distinções - afinal, como fruto da união de Poros e Penia, sabe perfeitamente assumir as diferenças -, eis o momento de experimentar o "estar no lugar do outro para amá-lo por inteiro".
É fantástico ver que muitas histórias de amor têm nascido nos novos espaços de encontro e comunicação. Se eu vivesse no século XIV, seria estranho que tentassem me explicar um "amor virtual". Falta o quê a esse Amor: corpo? respiração? olhos? mente? alma? "Mas está tudo ali", dirão os apaixonados virtuais; "posso ver, quase tocar". A internet ainda não tem cheiro, nem paladar, nem tato. Mas a visão e a audição já foram convocadas para a missão muito especial do enamoramento. Aguçam-se os sentidos, adivinha-se o cheiro da pele, o calor das mãos e o sabor do beijo. O Amor contemporâneo reinventou o erotismo, criou o erotismo cibernético.
A ausência física do objeto do amor versus a sua presença através de câmeras e microfones (imagem do corpo e recepção da voz, respectivamente) intensificam a relação erótico-amorosa, já que o erotismo se forma a partir da dicotomia ausência/presença, e dos espaços ora em branco ora preenchidos pelos sentimentos. Mas não estou aqui para fazer um estudo acadêmico do erotismo na internet, ainda que eu me sinta tentada a isso, seja por gosto pelo tema, seja pelo "costume do cachimbo". Interessa-me o que anda-se sentindo por aí graças à rede mundial de computadores.
Incluo-me nessa nova forma de sentir. Vejo que as possibilidades de amar nesse século são mais intensas que anteriormente. Imagino as cartas viajando a cavalo de uma aldeia a outra séculos atrás. Atualmente, as cartas cruzando os mares de um continente a outro, em navios ou mesmo em aviões. Os telefonemas, tendo que ser cronometrados para que não custassem tão caro. Quem nunca viveu um amor assim?
Hoje em dia algumas coisas já fazem parte do cotidiano de muita gente: quando alguém se apaixona, o celular se transforma em artigo de primeira necessidade. Ou seguramente você, ou alguém próximo a você, conheceu algum grande amor na internet. Criou-se o conceito "relacionamentos virtuais", e que quase sempre ganham o status de "reais" com o passar do tempo. Mandam-se beijos, flores e cartões virtuais às pessoas amadas.
O Amor ganhou cara nova, jeito novo, bem "moderninho". Contudo, ninguém precisa teorizar sobre "a inserção do Amor no contexto da globalização e da era da imagem" para poder senti-lo. O Amor continua sendo o Amor, não importa a era. Sente-se. Vive-se intensamente cada gota. Amor é Amor. E ponto continuativo.
4 comentários:
Isso mesmo!!! Viver, respirar, sentir o amor sempre!!!
Amo-te preciosa!!!
Bia,
que interessante o texto!
E que interessante está seu blog. Cada vez mais poético, mais sensível, mais belo! Parabéns.
Abç
Biaaaaaa!
Muito emocionante...
Amei
Revivi aquela época...aí quantas saudades.....
Bjs
[i]WOW!!![/i] Amiga, que tratado sobre o amor! Amei! Defendendo a virtualidade, a imaginação, a possibilidade, o rompimento da distância...Imagina que apesar disso ouvi hj de um amigo "terminamos... Júlia está em Recife e eu aq..." Fiquei triste..um casal tão lindo, tão alegre, tão inspirador... Inexplicável amor, que nunca se sente satisfeito... Beijos
Postar um comentário