segunda-feira, junho 05, 2006

Sobre bicicletas e namorados


Minha doce Carol me apresentou um novo conceito: a TPN. Achei adorável. Ri muito. Delirei. Trata-se da sigla para Tensão Pré-Namoro, uma nova denominação para a coisa-de-dentro que se somatiza no corpo humano antes da conjunção de dois corpos e almas, antes de ser realidade o estar com alguém que desejamos.

A TPN deixa mãos geladas, faz o assunto evaporar-se, faz-nos dizer as coisas mais estúpidas e "sem pé nem cabeça", lança-nos à deriva no mar do gostar. "O quê ele disse?", "O quê ele pensou?", "O quê ele desejou?", "Me desejou?", "Me achou bonita, assim, assado?...". Eis o campo aberto (e minado) da fantasia. Lançam-se especulações. Inventa-se a teoria sobre o-que-o-outro-quis-realmente-dizer-com-aquilo-?. Tudo doído. Porque não há certezas. É uma tensão que inclui paixão e dor. Porque quase sempre paixão inclui dor. Amor é outra história.


Brotam das profundezas de não-se-sabe-onde os fantasmas de todos os erros do passado. Os nossos e os dos outros. Os amores fracassados dão alma à TPN, o medo antecipado de ser como antes, o medo do abandono, das faltas, das decepções, tudo isso vai conformando cada sensação da TPN. E há também a idealização do outro. A idealização é elemento básico na TPN. Idealiza-se e sentem-se calafrios. Idealiza-se e sente-se prazer. A idealização é o motor da paixão. E vice-versa. Trata-se de uma relação circular.

Nunca vou saber o que alguém pensa até que esse alguém me diga com todas as letras. É óbvio. Mas nem sempre nos damos conta disso. Nem sequer cogitamos essa distante possibilidade.

O bom é que a TPN vira poesia. Metamorfoseia-se em versos quase adolescentes, não importa quando os escrevemos, se aos 20, aos 30, aos 40. E quando temos poesia, podemos enfrentar qualquer sentimento. É como uma tocha na escuridão. Dói menos, é mais leve, tem até um gosto doce.

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Tenho pensado muito, muito, muitíssimo em ter uma bicicleta. Mas em apartamento é tão difícil desejar algo novo! Poderia me desfazer de um móvel para ter uma. Mas, pensando bem, em minha sala tem um lugar guardadinho esperando por ela. Quero uma bicicleta antiga, dessas importadas da Europa, com cesta e redinhas nas rodas para não prender a saia ou o vestido. Uma dos anos 30 ou 40 seria perfeita! Essa que está acima é uma Opel, alemã, toda restaurada. É um fetiche.

Junto com a bicicleta, sonho uma cidade toda plana, onde me deslocaria montadinha na minha máquina. As ruas de Barcelona ou de Vitória da Conquista!... Duas utopias. Muitas. Eu iria de saia, lógico! Ou de vestido. E sempre levaria algo na cestinha: flores, compras, livros.

Tantos desejos. Tanto sonho. Que bom poder desejar uma bicicleta. É um pouco como tê-la. Que bom desejar a alma de alguém. A alma e o corpo. Tenho que construir um jardim para atrair as borboletas, né, Quintana?

Bacio.





4 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!!!
Você sabe que sou sua fã!!!
Beijos!!!

Anônimo disse...

Ê que podia levar eu aí nessa cestinha. Eu ia com as pernas pra cima e dando risada e gritando "sai da frente". E se a gente caísse, um passava mertiolate no outro. Não, não, mertiolate não, mercúrio - que não dói.

E o texto bem bom como sói.

Anônimo disse...

Biaaaaaaaaa...Biiiiiiiiiiiiiia!
que presente que vc me deu...
que texto lindo!
Nossa! parece que vc identificou minha alma, meus medos e anseios nas noites em que os olhos insones teimam em ler Sartre.uauauh
Saiba que te gosto muito, viu?
E adorei...Lindoooo!
Um beijinho, dois beijinhos, vários beijinhos!

Anônimo disse...

Essa tua leveza, no buscar das coisas ausentes e essencias para a vida da poesia, inda te levará longe, muito longe... tipo Passárgada, Eldorado, Macondo, Guigó... onde toda poeta pretende chegar.