quinta-feira, maio 04, 2006

Valsa

Lembro de uma adorável entrevista que Lygia Fagundes Telles concedeu a Jô Soares há alguns anos, na qual ela falava sobre os amores que teve pela vida afora. A imagem é deliciosa: a respeitável escritora refere-se aos amores passados como menos intensos que o último que se vive/viveu. Lógico, óbvio, dirão todas e todos. Mas a parte deliciosa não está nisso. Contava ela que, quando lhe perguntavam se fulano ou beltrano haviam sido o grande amor da sua vida, ela respondia com jeito maroto (para usar uma palavra da sua época...): "Que nada! Com ele eu apenas dancei uma valsa!...".
O que me fala é a doçura com que se descarta um sentimento. Ou que não se descarta, que se redimensiona o que se viveu. E como ela deu leveza ao que se perdeu: virou valsa... Virou poesia!
A metamorfose dos sentimentos é uma das coisas mais incríveis na vida de um artista, na vida de um ser sensível. Dançamos valsas, rodopiamos pelo salão nos braços de alguém, e isso é o que importa. Essa é a lembrança que a mente guarda, carinhosamente, dos amores passados.
Quero guardar os acordes singelos da última valsa que dancei, porque agora sei que foi mais uma dança, e meu coração está leve, leve.
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Pergunto ao moço que ronda meus dias:
"Dançarias comigo uma valsa?
Viverias comigo um amor?"

Um comentário:

Fernando Henrique Lemos Rodrigues disse...

Uma valsa infelizmente eu não sei dançar... nem sou quem ronda seus dias... mas uma salsa... ou qualquer coisa latina em Madrí... pra começar uma amizade.

Beijos...