quarta-feira, outubro 27, 2010

Olhares sobre as eleições - parte XIX

26/10/2010 - 08:23hGrupo da USP exorta esquerda a apoiar Dilma

Patrícia Campos Mello – O Estado de S.Paulo

Uma semana depois do manifesto de artistas no Rio em apoio à candidatura de Dilma Rousseff, um grupo de intelectuais da Universidade de São Paulo realizou um ato a favor da petista. Liderados pela filósofa Marilena Chauí e pelo historiador Alfredo Bosi, os intelectuais exortaram a esquerda a se unir em torno da candidatura Dilma, depois de alguns terem votado em Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) no primeiro turno.

“O (José) Serra trouxe pela porta da frente o Opus Dei e a TFP (Tradição Família e Propriedade), que foram os grandes feitores da ditadura – essa é um afronta à nossa memória”, disse Marilena. “Estamos votando no futuro deste país e para proposta socialista alcançar o Brasil, a América Latina e a Europa.”

Diante dos cerca de 2 mil estudantes ali reunidos, Marilena fez uma advertência: ela conclamou todos a usarem a internet, blogs e redes sociais para alertar para o plano dos tucanos de se disfarçarem de petistas e incitarem a violência em um comício de Serra, no dia 29. “Tucanos disfarçados com camisetas e bandeiras do PT vão se infiltrar em um comício do Serra para “tirar sangue” e “culpar o PT”, afirmou a filósofa, que se recusou a dar entrevista, dizendo que “não fala com a mídia”. “Eles querem reeditar o caso Abílio Diniz”, disse Marilena, referindo-se à tentativa de ligar ao PT o sequestro do empresário Abílio Diniz, às vésperas da eleição de 1989.

A historiadora Laura de Mello e Souza, filha de Antonio Cândido, leu uma carta do pai declarando voto em Dilma Rousseff. Também participou o senador Eduardo Suplicy. Militantes distribuíam bandeiras e buttons de Dilma e do PT, além de adesivos com os dizeres: “Sou privatizado, Serra nunca mais.”

Os intelectuais reunidos na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP não economizaram críticas contra Serra, Fernando Henrique e a grande imprensa. “Precisamos evitar o pior: um candidato que para conseguir chegar ao segundo turno fez uma aliança com a ala mais reacionária da Igreja, o agronegócio e a fina flor do pensamento conservador – ou seja, o que o Brasil tem de pior”, disse o filósofo Vladimir Safatle. “Esta eleição demonstrou que há um eleitorado de direita forte e presente, nossa luta vai ser longa.”

Um cartaz bem atrás da mesa dos intelectuais, conclamava os estudantes a anular o voto: “Mal Menor PT e PSDB com suas diferenças estão juntos contra os trabalhadores, a juventude e a educação – Vote Nulo! Liga Estratégica Revolucionária.”

A socióloga Heloísa Fernandes, filha de Florestan, pediu que as pessoas não anulem seus votos. “Se vivo fosse, meu pai estaria aqui no meu lugar”, disse ela, sobre Florestan, que foi uma das grandes influências do ex-presidente Fernando Henrique. “No primeiro turno eu apoiei o Plínio (PSOL), agora, no segundo turno, discordo e não acho que tudo seja farinha do mesmo saco, Dilma e Serra representam duas concepções de mundo totalmente diferentes.”

O jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, da PUC, alfinetou Serra , dizendo que Dilma é “uma mulher de valor que, ao contrário daquele que prega a liberdade de expressão, não foi se refugiar no exterior, enfrentou aqui as durezas da tortura.” Serra se exilou no Chile e depois nos Estados Unidos.

O jurista também foi duro contra a imprensa. “Esta última semana é crucial, temos visto as baixezas dessa campanha vil e indigna, sabemos que alguns veículos de comunicação, se é que merecem esse nome, vão rosnar e destilar ódio e acalentar a fabricação de mentiras contra a candidatura que representa o povo brasileiro.” O professor de literatura Flavio Aguiar, em uma carta enviada de Berlim, comparou Serra e os tucanos a “Hermógenes e seus asseclas”, vilões do livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, que se “aliaram aos grotões das mídias oligárquicas.”

Alfredo Bosi, um dos mais aplaudidos, disse que Dilma é vítima dos “marqueteiros venais, com perdão do pleonasmo, e da imprensa marrom de papel couché, sombra das forças mais reacionárias deste país.” Aproveitou para alfinetar Fernando Henrique, falando da sua “deprimente teoria do país dependente associado, fruto de uma teoria oportunista que está sendo desmentida pela política internacional de paz que é um dos maiores méritos desse governo”. Fernando Henrique é um dos formuladores da teoria da dependência. Os intelectuais divulgaram um manifesto, assinado por cerca de 800 filósofos e estudantes de filosofia.

Outro professor de Direito, Gilberto Bercovici, da USP, debochou do incidente em que Serra foi atacado por militantes do PT com uma bolinha de papel e um rolo de adesivo. Serra “vai transformar toda nossa luta pela democracia nisto aqui” disse Bercovivi, mostrando uma bolinha de papel. O senador Eduardo Suplicy, foi recebido aos gritos de “canta! canta!” e pediu voto em Dilma.


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