“Ninguém completa plenamente o outro. Tem que se aprender a lidar com essa falta e tentar desenvolver as características que julgam importantes para seu relacionamento e que estão, possivelmente, latentes no outro. A pressão social para o casamento e para a reprodução e/ou a carência afetiva conduzem as pessoas a uma convivência a dois para a qual, nem sempre, estão preparadas. Nessa perspectiva, quero chamar a atenção para um tipo facilmente identificável nesta realidade, que quase sempre é o pivô dos dramas de ciúme. É tipo homem inseguro que, apoiado pela cultura machista de direito irrestrito a esse gênero, procura se auto-afirmar se lançando
Para este sujeito a ‘crise de ciúme’ da mulher somente aparentemente o incomoda, pois funciona como um termômetro para que ele auto-avalie o quanto é ‘querido’ e ‘desejável’. Uma coisa é admirar despretensiosamente os atributos sejam físico, intelectual ou espiritual de uma pessoa; uma outra é deseja-la e comunicar isso através de palavras ou, o que é pior nesse clima de produção de ciúme, com sinais ou expressões não verbais do tipo ‘olhar de alcova’. Esse indivíduo é um expert nessa modalidade, uma vez que os indícios dos lampejos libidinosos que ele emite são instantâneos e subjetivos. Em caso de protesto, pode se defender indagando: ‘Eu falei ou fiz alguma coisa!?’. E a parceira fica como ciumenta descabida, cuja reação serviu-lhe apenas para denunciar sua ‘insegurança’.
Esse desrespeito a conta-gota, quase sempre introjetado como mágoa, em breve será o ácido corrosivo da sua auto-estima. Esse tipo deixa implícita a mensagem de que é o homem, ou melhor, o macho, e que deseja as demais mulheres. Enfim, de que sua parceira não o preenche e que nem é tão especial em sua vida. A submissão, o medo da violência física faz com que a mulher não reaja a essas perdas. O condicionamento em mostrar fidelidade, eu diria canina, faz com que a mulher abra espaço para esse jogo.”
Silva, Valdeci Gonçalves da. Os feitos e efeitos colaterais do ciúme. In:
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