segunda-feira, novembro 20, 2006

Bertolucci



Bertolucci consegue tornar as linguagens cinematográfica e poética uma coisa só. Esqueçam tudo que viram dele. Assédio superou todas as minhas boas recordações dele. Mesmo as de O céu que nos protege, que é uma das coisas mais lindas que já vi no cinema. É um filme tão teatral, tão poético! Fico boba como uma obra cinematográfica consegue transitar tão esplendorosamente por outras linguagens e ser um pouco de todas elas. Aplausos para Bernardo, aplausos... O filme conta a história de Shandurai e Jason, um encontro que já foi contado em outras histórias do cinema, como na comédia romântica Simplesmente amor, na relação entre o inglês (vivido por Colin Firth) e a sua empregada portuguesa - que, na minha opinião, daria um roteiro à parte.

As cenas de Assédio são tão bem construídas! Cada imagem, cada fala, a música. Filmes que falam de músicos sempre são ótimos, sempre são um presente para os ouvidos. É bonita a maneira como o amor de Jason e Shandurai vai sendo construído, à medida em que a casa de Jason vai sendo desfeita para ajudar o marido de Shandurai a deixar a prisão. A minha sensação é de que a única coisa que resta dos móveis é a cama, onde eles fazem amor na penúltima cena. Nada é explícito, tudo é apenas sugerido. Um dia Shandurai descobre que ama Jason e lhe deixa um bilhete de amor, no qual mantém a linguagem que reflete a relação respeitosa de empregada com patrão:

Dear Mr. Kinsky, I love you.

Filme delicioso, delicioso. Uma Itália que vai se abrindo a cada cena, com sua arquitetura tão particular, o sempre céu de Bertolucci, a câmera que revela os rostos dos personagens e o que lhes vai na alma. Nem preciso falar mais o quanto gostei. Como diria Ti, clap clap clap. (rs)

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Para ressaca moral, óculos escuros.
Para coração despedaçado, ficar em silêncio.
Para ser feliz, ouvir a voz que vem de dentro.
Minhas pílulas de hoje, novembro e primavera.

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