quarta-feira, junho 07, 2006

A mochileira que há em mim

Foto tirada de uma página da web

Vou pegar minha mochila e colocar o pé na poeira da estrada. Vou em busca de mim. Estou em muitos lugares. Nas gentes, nas árvores, nos pôres-do-sol, em rios, mares, paredes e viadutos. Preciso da estrada como de ar. Cheguei a essa certeza faz uns dias. Minha alma é errante. Preciso da transição, do sentir-me estrangeira, do estar alhures. Estar algures para estar em mim. Não entendo porquê sou assim, mas descobri essa alma faz uns dias. Alguns companheiros não a entenderiam, por isso eu me afasto delicadamente deles. Não quero quem me prenda. Não quero as "gaiolas douradas" de que fala Rubem Alves. Sei-me "pássaro encantado" para alguns. Mas minhas asas me pertencem, sem elas posso morrer.

Minha pena se nutre dos horizontes do mundo. De certos rostos que vejo, alguns sorrisos e idéias. Há uma mulher em mim que tem identidade múltipla. Muitos lugares fazem parte dela, muitas histórias, muitos amores. Ela vai pelos seus caminhos reunindo fragmentos de uma vida. Cantarola fados tristes, guarda algumas folhas recolhidas pelos atalhos, leva um diário onde registra suas memórias, vai lapidando uma simplicidade que o mundo lhe ensina. Ela fala alguns idiomas, gosta de gente, de bichos, de árvores. Sempre observa as árvores quando vai pelas estradas, e rabisca as nuvens em pedaços de papel.

Tem uma mulher em mim que aprendeu o desapego, e leva pouca roupa na mochila. Sua casa está em suas costas e em cada pouso onde descansa da jornada. Ela sabe que a vida é transição. Que o rio nunca para de correr, e que o destino é ser parte do mar. Ela não teme seu destino errante. Ela sabe que em todos os pousos encontrará seus iguais. Porque eles existem.

Há uma mulher em mim que venceu as convenções sociais e ganhou o mundo. Ela já dormiu numa praia, sob as estrelas e diante do Atlântico, sozinha, sentindo-se parte da natureza, das ondas, do som do vento... Ela conheceu os hospitais tristes da América latina, e viu mulheres perdendo líquido amniótico em suas gravidezes sub-nutridas... Ela viu a beleza em tantos olhos e sorrisos!...

Seguirei. Porque o mundo é vasto. Porque há muita estrada esperando por mim. E meus pés estão desejosos por ir. Eu vou.



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